sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Olhar e Caminhar

Viver é, entre tantas outras escolhas, uma opção que se faz entre um caminhar lento onde a busca pela descoberta do mundo que nos envolve é saboreada em cada detalhe e aquele caminhar que segue resoluto, focado numa rota traçada,
testando qual entre tantas possíveis é a mais eficiente levada para que cheguemos logo ao alvo de um desejo, que se constrói com uma ação contínua e planejada.

Aquele que caminha sem vislumbrar, de tempos em tempos, o lugar onde quer chegar, tende a chegar a um lugar que não lhe agrada, não lhe acrescenta, não lhe faz bem.
Quem se deita placidamente no barco da sua própria vida, levado pelas correntezas,  corre o risco de bater nos rochedos do desperdício daquilo que não pode ser jamais reposto, como o tempo. Há oportunidades que fazem a gentileza de aparecerem mais de uma vez, mas o tempo este segue sempre, inabalável e insensível.

Quem se deixa disponível para tudo que surge em seu caminhar, quem dedica
seu esforço, sua atenção, seu espírito explorador ao que se apresenta, sem um necessário julgamento sobre a pertinência daquela descoberta para o atingimento dos próprios ideais, sobre a utilidade daquilo para a própria
evolução, acaba desperdiçando a si próprio.

Por outro lado, olhos atentos ao que se descortina a sua frente  enquanto você percorre o caminho planejado podem se deparar com oportunidades de aprendizado, sequer imaginadas, que trazem com o  canto de sereia da novidade, um avivamento do espírito explorador, que nos leva a conhecer o mundo e a nós mesmos. Não raras vezes descobrimos que o caminho  não-traçado é uma fonte mais rica de significados que a rota traçada no nosso mapa de tarefas por fazer!

Não há posição que seja válida e a mais acertada para todos os momentos da vida, as situações são complexas, tanto o sucesso quanto o fracasso tem causas multifatoriais que se interagem entre si de formas negativas e positivas, potencializando-se ou anulando-se umas às outras. É preciso ter sensibilidade para harmonizar conceitos antagônicos nas atitudes e nas ações que empreendemos a cada momento, pois a vida tem movimentos que não aceitam as rédeas das nossas convicções. Há situações onde um vento que nos conduz dentro de uma mesma linha de raciocínio pode ser entremeado por uma rajada de contraditório, durante a qual aquele que navega sua própria vida deve virar o leme em outra direção, sob pena de naufragar na busca de seus propósitos.
 Neste momentos, o melhor a fazer é escolher dentre a caixa de ferramentas de tudo o que aprendeu, qual lição será útil naquele momento de contraponto à evolução de uma melodia.


Nos resta então, a cada momento, fazer esta opção entre o foco no observar o que há no caminho  e o olhar pragmático para a mecânica do caminhar que nos permite avançar rumo ao destino ao qual queremos chegar.  Nos cabe buscar o equílibrio, nem ser aquele que se deita no barco à deriva, nem o cavalo com antolhos que cavalga no máximo de sua capacidade, sem se dar conta sequer onde suas patas tocam o solo.

Viver com sabedoria é saber encaixar verdades contraditórias,
e não cair no erro de acreditar que uma verdade está sempre certa.


La barque pendant l'inondation a Port Marly (1876) - Alfred Sisley - Musée D'Orsay

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Superar Limitações


Esta imagem forte, que pode servir entre outras coisas como estímulo a quem acorda dividido entre a intenção de fazer uma atividade física e a vontade de ficar na cama por mais um tempinho, mostra a pista de atletismo recebendo toda a potência das pernas de Usain Bolt, o homem mais rápido do mundo.
Atleta que do alto dos seus 1,96m de altura surpreende a todos com seu bom humor e como se apresenta descontraído antes dos eventos mais importantes do atletismo.

O que talvez poucos saibam é que ele tem escoliose na lombar e a perna direita 1,5cm mais curta que a esquerda. Em função dessa conformação do seu corpo, desde os 17 anos sofre de inflamação crônica no músculo semi-membranoso da perna esquerda. Este músculo, que fica na parte de trás da coxa e tem a função de dobrar o joelho e ajudar curvar o quadril, junto os outros feixes musculares que formam o quadríceps femural é altamente estressado quando o sorridente atleta chega a quase 45km/h na pista de atletismo. A passada da perna esquerda de Usain Bolt foi medida em 2,79m, enquanto a passada da perna direita mede 2,59m. A cada passada, segundo medições feitas no Reino Unido pouco antes dos Jogos Olímpicos, ele transfere o equivalente a 4 vezes e meia o seu peso para a pista.

"Um homem faz o que é preciso, apesar das eventuais consequências para si mesmo, apesar de suas dificuldades, apesar dos obstáculos com que se depara, dos riscos que se apresentam, e das pressões que sofre - esta é a base do caráter do gênero humano"
Winston Churchill

"Todas as adversidades e obstáculos que encontrei em minha vida me deram força e experiência para superar os obstáculos que vieram depois"
Walt Disney

"Um herói é uma pessoa comum que acha em si a força para persistir diante de obstáculos avassaladores"
Christopher Reeve

O fato de uma pessoa que não tem exatamente o biotipo perfeito para ocupar as posições mais altas na elite do esporte, alto e pesado demais, com uma perna mais curta, escoliose e lesões constantes, ter atingido o Olimpo onde os recordistas mundiais escrevem seu nome na história dos feitos humanos, nos serve de inspiração no sentido de mostrar que não há limites para o que podemos ser, apenas nossa fibra e nosso caráter nos limitam.

Este exemplo do esporte pode ser usado como lição de vida para o nosso crescimento como pessoas.   
Temos a vida toda para crescer e amadurecer, para desabrochar a essência do que somos e do que gostaríamos de ser, e as dificuldades e limitações não são capazes de impedir que as pétalas das nossas qualidades se abram, e que a fragrância do que somos seja liberada nos movimentos que juntos, formam o  viver.

Quando o obstáculo está dentro

"O homem aprende através da experiência, e o caminho espiritual é preenchido com os mais diferentes tipos de experiências. O homem encontrará muitas dificuldades e obstáculos, e estas são exatamente as  experiências que ele precisa para estimular e completar o processo de limpeza."
Sai Baba

Aceitar-se não é interditar o que se pode ser por reconhecer as próprias limitações. O processo de auto-conhecimento não termina quando se passa um recibo de somos menores em um determinado aspecto e temos outras qualidades para compensar. Dizer "isso não é para mim", "não dou conta", "não nasci para isso", etc é passar recibo das próprias limitações e aceitá-las como portas eternamente fechadas. O obstáculo se supera, se contorna, empregando mais inteligência, usando criatividade, obstinação, com um misto de paciência com as próprias limitações e inconformismo com a sentença que interdita possibilidades e rotula as pessoas para todo o sempre. 

Junto com o esforço de fortalecer suas qualidades, de adestrar sua habilidade de resolver problemas, vem a faxina de abrir mão de pensamentos e sentimentos que te amarram, te limitam, vem  o exercício de soltar a bagagem de mecanismos de auto-sabotagem que restringem seus movimentos, e liberar-se a tudo que você pode ser. 

A lucidez de saber que se outros podem, você também pode, a coragem de testar seus limites e com cautela, avançar naquilo que você é capaz de fazer, está presente no ser humano desde o nascimento. O bebê que arrisca seus primeiros passos não pensa que  não vai conseguir, ele simplesmente tenta o que nunca fez e aprende fazendo, tropeçando, caindo e levantando. Esse poder que nos permite aprender e avançar está dentro de nós e ao nos reconectarmos a essa energia, o que podemos fazer pode ser surpreendente até para nós mesmos.



sábado, 27 de abril de 2013

A Auto-Imagem e a Prática



O ser humano vem ao mundo como uma folha em branco, ou um papiro fabricado pela criação, pela educação que recebemos, de tudo que nos cerca, das influências culturais, do que a vida nos ensina. Neste papiro escrevemos nossa identidade.

Dois filósofos cunharam a mesma frase, com séculos separando as vidas de dois homens que sintonizaram-se com um mesmo conceito. Píndaro no século V antes de Cristo e Friederich Nietzsche no século XIX disseram 

"Torna-te o que és"

A imagem que você tem de você mesmo, e sobre o que você é, é uma semente do que pode vir a ser. Tudo que é uma idéia abstrata, é verdadeiro até que a materialização daquele conceito em ações que produzem resultados aconteça. 

Um conceito que você tenha, no seu nascedouro é a priori uma verdade, e o ato de colocar em prática pode fazer com que aquela verdade se revele ilusória. Entretanto uma verdade potencial move as pessoas em uma direção rumo ao conhecimento,  e a verdade pode transcender aquele conceito inicial de forma supreendente. 

No tocante a auto-imagem, os resultados do que você faz corroboram o que você acha que é ou não, mas o que podemos ser é muito menos limitado do que os primeiros resultados podem sinalizar.

A forma como os outros te vêem depende de como você se comporta, mas a sua auto-imagem se conecta com o que você pode ser, com o que você almeja ser, e somos um conjunto de possibilidades esperando a vez para acontecerem, e o que somos se molda pelo que escolhemos ser a cada momento, de forma consciente ou não.

A equivocidade

Algumas vezes, as pessoas se angustiam ao constatar que têm agido em desacordo com o que acreditam, ou que suas idéias e suas ações não combinam, como quando tem intenção de fazer uma coisa e acabam fazendo outra, ou quando em uma situação na qual planejaram agir de uma forma tiveram uma atitude oposta ao que queriam ter. 

Quando a prática tem um rompimento com o pensamento deliberado temos um exemplo do conceito de equivocidade. Isso tem a ver com o que está zanzando nas camadas inconscientes do nosso ser, e com os ruídos dos discursos das várias possibilidades de vir a ser que residem em cada um de nós. A mente consciente é o porta-voz da nossa pluripotencialidade, e por vezes não tem certeza do que filtrar para a realidade do burburinho interno que ouve.

A auto-imagem é o local onde nascem as ações, atitudes, de onde tiramos material para construir nossa identidade, e que se expressa e toma corpo nos acontecimentos da nossa vida, e que se afeta pela nossa percepção de como agimos e retro-alimenta nossa auto-imagem. Mas o que percebemos é apenas uma das possibilidades do que podemos ser. 

Ser é algo em movimento 

Você é o que você faz. Se você não se movimenta, o indelével trem das consequências te atropela, o tempo com seu incessante desenrolar acaba no fim por enterrar o seu corpo inerte.

O milagre da transmutação está dormente no interior da sua alma, em toda água ( e aqui uso a água como metáfora do tempo, do transcorrer da vida, do fluxo de acontecimentos) que você bebe há algumas moléculas de vinho que sua energia pode fazer com que toda a taça do dia vire vinho ao fermentar pensamentos em ações.

Imagem: escultura Self Made Man por Bob Carlyle
http://www.bobbiecarlylesculpture.com/SelfMadeMan.php

quinta-feira, 25 de abril de 2013

O Exercício do Olhar Que Se Encanta


Há algo dentro de nós que permite nos conectar com o que há de artístico, de poético na vida, e o exercício de olhar atentamente para o que produz encantamento pode se tornar um hábito, e esse pólen de poesia pode ser tornar espesso o suficiente para formar fios mais coloridos no tecido dos dias. Um dia maravilhoso a todos que sabem fazê-lo, para os que tem o vício louco de ver além do cinza. 

É preciso, imperativo mesmo, equilibrar a viagem interior aquela que se faz desvendando o oceano interior com o exercício de despertar para o mundo em nossa volta, para o que o universo quer nos mostrar. Não se permita dormir dentro desse sonho em direção a si mesmo e perder a noção do tempo de viver ou piscar para o que produz encantamento. Certas viagens acontecem em uma fração de segundo para quem está aberto para ver a vida te sorrindo, para quem está atento aos sussurros da vida, vida esta que escreve poesia com pequenas coisas que acontecem, todas elas maravilhosas para quem tem olhos para ver. 



CANÇÃO DO DIA DE SEMPRE
Tão bom viver dia a dia... A vida assim, jamais cansa... Viver tão só de momentos Como estas nuvens no céu... E só ganhar, toda a vida, Inexperiência... esperança... E a rosa louca dos ventos Presa à copa do chapéu. Nunca dês um nome a um rio: Sempre é outro rio a passar. Nada jamais continua, Tudo vai recomeçar! E sem nenhuma lembrança Das outras vezes perdidas, Atiro a rosa do sonho Nas tuas mãos distraídas...

Mario Quintana 

O encantamento não é uma combustão espontânea, um raio de êxtase que cai na sua alma enquanto você andava distraído pela vida. É uma explosão de cor na tela branca dos dias, que segue pelo pavio cujos fios foram trançados por aquilo que você se permitiu olhar. Você só se encanta com algo que seu olhar captou porque você exercitou sua percepção naquele campo visual. Outras pessoas podem dirigir o olhar para o mesmo que você e não verem o que você viu. Pode ser uma miopia de ver apenas o que apenas o que serve para a vida delas, pode ser uma catarata que cobre com uma nuvem de definições pobres as sutis diferenças entre o que se vê e o que se viu, podem ser os antolhos dos medos, das desconfianças, das ressalvas marcadas na alma como cicatrizes do que um dia fez sofrer. Assim, é preciso exercitar a capacidade de se encantar.  O que você busca, você acaba encontrando.

Quando se abre pelo esforço próprio um canal que conecta com algo indefinível, se conecta com algo ilimitado. Quer seja inspiração, auto-conhecimento, ou encantamento a lei do universo é dar mais a quem tem muito. A riqueza de sentimentos inunda quem abre as comportas da percepção para todos esses tesouros, e essas qualidades são infinitas, quem destrancar essa porta será presenteado com essa energia esplendorosa que alaga os terrenos da sensibilidade. 

Mas, sabe? Apenas olhar e ver é só o começo. É preciso pelo menos tentar melhorar o ambiente - acrescentar algo que enfeite a vida, que melhore o que capta o olhar, materializar o sentimento de conexão com a riqueza infinita. Quem abriu em si um canal que conecta com um tesouro ilimitado tem a oportunidade de se tornar um ponto de disseminação de encantamento, usar o poder de projetar o que sente no mundo, espalhando energia positiva. Que a corrente do bem sempre tenha mais almas sorridentes se juntando a ela! 

Imagem: Liquid Dancer - by Photo-Graphixx (DevianArt)


segunda-feira, 22 de abril de 2013

Não é Um Defeito, é Uma Característica



Há alguns assuntos, ou melhor dizendo dimensões de conteúdo que criam no nosso interior um terreno fértil para reflexões, para que percepções se agucem, pavimentam um caminho por onde mente, espírito, olhar podem trilhar viagens. Pode ser uma conversa, pode ser um texto que você leu, pode ser uma descoberta que você fez, ou pode ser mesmo que nada de novo tenha acontecido, mas você teve um insight e passa a ver fatos que você viveu de uma forma mais rica de conteúdo, mais complexa, mais informativa. 

Quando se depara com uma dessas sementes de conhecimento, se a pessoa se deu conta de que esbarrou na ponta de um iceberg de significado, um espírito explorador desperta na pessoa. Ela se sente impelida a desvendar os detalhes, as variações, os diversos significados possíveis para aquela descoberta. Os primeiros sentidos mais óbvios são assimilados mais rapidamente, e a partir deste ponto as pessoas começam a se diferenciar pelo nível de profundidade que as satisfaz. De acordo com a perplexidade despertada por aquela descoberta, o nível de curiosidades inato daquela pessoa, o quanto ela caminha na exploração das descobertas até que atinja o ponto em que conclui a expedição e diz "hmmm, agora entendi" varia de uma pessoa para outra.

Não se trata de raciocínio rápido ou lento, de se levar mais ou menos tempo para concluir as mesmas coisas, mas do quanto de informação, aprendizado, conteúdo se extrai daquela fonte, que se ramifica e vira uma dimensão de conteúdo, alimento para várias linhas de reflexão, de descoberta.

Quanto mais cedo se conclui um pensamento, menos se percorre nesse caminho da descoberta.

Assim, se você se identifica com essa sede de conhecimento "nos mínimos detalhes", e nas várias vertentes, e ouve de vez em quando aquele comentário reprovador "Mas você ainda está nessa?", relaxe. 

Você só ganha ao não interromper o fluxo do conhecimento fechando as comportas com uma conclusão. Concluir muito agilmente pode interromper aquela colheita antes que todos os seus frutos alimentem aquilo que te torna mais sábio. Abra as comportas para os pensamentos que você vê como fonte de revelações o tanto que seu espírito explorador desejar.

Se você tem essa tendência a ruminar as coisas, e escarafunchar o sentido do que você vê acontecer, lembre-se:

 "Não é um defeito, é uma característica."

sábado, 20 de abril de 2013

Dieta Emocional Balanceada

Precisamos de alegria e de tristeza, e de outras correntes emocionais vetorialmente opostas, mas o que não precisamos com certeza é ceder aos aborrecimentos, e deixar que maculem nossa natureza de boa vontade, luz, compaixão, cordialidade, e capacidade de observar com imparcialidade, com genuína vontade de aprender. Nada ganhamos ao ceder ao sequestro emocional de quem quer botar sal na água que bebemos.

Ninguém consegue ser o tempo todo esfuziantemente alegre. A felicidade não é isso. Uma pessoa feliz com certeza sente-se inteira, não há nada de relevante tolhindo a manifestação dos seus fenômenos interiores, nem desconfortáveis cabrestos impostos por alguém nem amarras impostas pelos próprios medos e fraquezas. Ela se sabe imperfeita, mas se ama, e tem ânimo para caminhar para frente.


"A tristeza nos dá profundidade. A Alegria nos eleva. A tristeza nos dá raízes. A Alegria faz com que nos ramifiquemos. A alegria é como uma árvore crescendo em direção ao céu, e a tristeza é como suas raízes buscando o ventre da terra. Ambas são necessárias, e quanto mais alto uma árvore se projeta, mais ela precisa de raízes profundas. Isto lhe dá equilíbrio". 

Osho

Na vida vivemos uma via de mão dupla entre os fenômenos interiores e os  fenômenos exteriores, o que acontece no mundo influencia o que sentimos e pensamos, e aquilo que emerge do nosso espírito influencia o nosso viver, nos conduz a uma caminho ao invés de outro, faz com que lidemos com os fatos de uma forma ou de outra. Mas às vezes precisamos fechar um dos sentidos dessa via de mão dupla.

Uma pessoa só te machuca , te aborrece ou te afunda em um buraco de emoções negativas se você o permite. Mesmo que a raiva, a indignação, o desânimo tenham motivos bem razoáveis, no final somos nós que decidimos canalizar nossa energia para aquele caminho. Energia mental, tempo pensando naquilo, energia emocional, permitindo que o coração se acelere, o corpo se inquiete, que uma energia negativa afete apetite, sono, a sensação de bem-estar. 

Não se ganha nada cedendo ao curso caudaloso dessas vibrações negativas que alguém tenta canalizar para sua vida, e neste ponto devemos nos conectar ao nosso interior e deixar fluir o que é genuinamente nosso, o que se alinha com a nossa caminhada evolutiva.

É dizer eu sou mais eu, isso não me atinge. É decidir não patrocinar algo que não se encaixa no caminho que você decidiu trilhar. A verdadeira força não é a energia de quem retalia na mesma moeda, é a de quem se mantém incólume e impávido, sem deixar se perturbar ou se alterar por algo que não tem lugar no seu interior.

Devemos procurar manter uma dieta emocional balanceada, sem fugir das emoções necessárias, sem deixar de enfrentar aquilo que sabemos que precisamos trabalhar, mas não somos obrigados a comer o pão que o diabo amassou quando este nos é ofertado por alguém. Recuse o que não te alimenta!

sexta-feira, 19 de abril de 2013

A Verdade É O Próprio Caminho


"O objetivo final não é a verdade, a verdade é o próprio caminho." 
Fushiu Palonx


E o que é o caminho? É algo difícil de definir com palavras que servem para todos, mas que todos  sabem dentro de si o que é. É aquilo que ao nos aproximarmos dele, sentimos que estamos em harmonia com a gente mesmo, e que ao nos afastarmos dele, nada flui. Quando estamos no caminho, nossa vida flui harmoniosamente, agimos de forma espontânea, a inspiração vem tão natural como o respirar. Inspira pensamentos, expira ações. Não nos sentimos na luta, fazemos parte da vida, nos adaptamos a ela, como as águas de um rio que passa por cima de pedras sem que a água perca seu frescor. Somos esse rio, às vezes caudaloso, às vezes plácido, quase um lago, às vezes cachoeira, algumas vezes somos apenas a folha seca que o rio leva.

 "Não se pode pisar o Caminho antes de se tornar o próprio Caminho" Provérbio Zen

Não importa qual direção seus passos o levem, se a consciência não está desperta não há caminho. Quando seu espírito está conectado ao caminho, então verdadeiramente você está caminhando. 

"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio - ninguém, exceto tu." 
Nietzsche

O Sentido do Caminho é Todo Seu

A memória me traiu ao lembrar uma citação e um novo sentido se fez. A frase que abre esse texto foi uma tentativa de lembrar uma citação de Gandhi: 

"Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho" 
Mohandas K. Gandhi

O sentido que cada um tira daquilo que encontra no seu caminho depende daquilo que aquela pessoa estava buscando.  

Não importa o que você busca, mantenha-se caminhando. A vida acontece no movimento do ser.

Imagem: Stepping Stones -  by sassaputzin (DevianArt)

quinta-feira, 18 de abril de 2013

SAIR DA CASCA


A correria da vida pode nos tornar meio sisudos. Claro que sempre haverá espaço para manifestações espontâneas de carinho, mas dar um alô  de vez em quando, no sentido de aproximar quem está longe, mas com quem  temos uma conexão afetiva, faz com que muitas coisas boas que estavam guardadas dentro das pessoas venham a superfície: almoços, conversas, e tantos outros momentos felizes compartilhados com pessoas queridas, momentos tão ricos que nos fazem tão bem. De fato, os melhores momentos da vida são aqueles que vivemos com pessoas que moram no nosso coração.

Entre você e o mundo há uma via de mão dupla

O que acontece no mundo, no seu dia, com certeza te influencia, mas o que acontece no seu interior também influencia o seu dia. E digo mais! As pessoas podem se influenciar mutuamente, e esse poder tem vertentes positivas e negativas. Alguém que chega carregando consigo a alegria e com um mero "Bom diaaaaa!" sorridente contamina as pessoas em volta está exercendo seu poder de influenciar o ambiente. 

"Cada ser humano é um ponto de encontro único entre os fenômenos interiores e os fenômenos exteriores"

Herman Hesse

As pessoas às vezes se esquecem de usar esse poder de criar um fluxo que vem do mundo interior e se faz fenômeno exterior, uma energia que contagia as pessoas que estão de alguma forma permeáveis para aquela vibração. E você sabe? Faz bem espalhar a vibração positiva que jorra de sua alma como água límpida de nascente. Molhe-se de boas vibrações e seja um córrego levando essa água que irriga o terreno fértil que há nas almas das outras pessoas.

"Mas se você der um pouco do amor, você receberá de volta um pouco desse mesmo amor"
Trecho da Música Give a Little Love - Noah and The Whale, que é a trilha sonora deste vídeo 


Às vezes, sentimos o frio da solidão, e podemos não nos dar conta de que nos encaminhamos inconscientemente para um momento de solidão, para que pudéssemos fazer um trabalho interno de arrumação, digerir pensamentos e sentimentos que se assemelham a sementes em processo de germinação e aquela solidão se instalou porque precisávamos mesmo ficar sozinhos. Se você está sentindo falta de interagir com outras pessoas, não pode ficar trancado em casa esperando que alguém venha te buscar para injetar alegria, amizade, e prazer de viver no seu dia. Talvez até uma pessoa de quem você gosta muito esteja se sentindo solitária e ficaria muito feliz se você aparecesse e desse uma mãozinha amiga naquele momento que ela está passando.

Solidão e solidariedade não compartilham o mesmo radical por acaso!


Deixe o ego de lado e se insira em uma teia de relacionamentos - Dê o primeiro passo para se aproximar das pessoas. Mande um SMS, ligue, marque de se encontrar. Muitas vezes a falta de tempo acaba virando desculpa por meses a fio, e você fica sem ver pessoas das quais você
gosta. Lembre-se que os melhores momentos da vida são os momentos que passamos com quem nos faz bem.


Às vezes, só precisamo mexer um dedo para sair da nossa própria casca.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O Universo deu bom dia


Hoje de manhã, por um acaso do destino, tive uns poucos minutos para simplesmente parar, ter um momento de silêncio espremido na correria dos dias. E vi algo muito significativo. Apesar do dia nublado, chuvoso, vi que um bando de pássaros voavam em círculos largos, sem preocupação de aproveitar melhor as correntes de vento para um vôo mais eficiente, que os fizesse gastar menos energia, essas criaturas de Deus brincavam de voar. E cantavam, cantavam muito, celebrando a alegria de viver. Entendi que essa energia está no ar, disponível a quem tiver abertura para essa conexão com o Universo. Acho que recebi um "bom dia" da vida, né gente?

Imagem: High Flying Bird II by Klapouch (deviantart)


NÃO SE LIBERTA DOS GRILHÕES DO TEMPO

A administração do tempo é com certeza uma necessidade de todos, já que o tempo é entre aqueles  recursos limitados que dispomos para satisfazer necessidades ilimitadas um dos mais rígidos, mais inflexíveis capatazes. Ele nos vê e como escolhemos usar o tempo de nossos dias e mantém-se impassível como a estátua cega da Justiça. Aqueles que se omitem na distribuição das fatias desse bolo altamente perecível que é o tempo, podem ver seu barco arranhado ao bater em recifes de desgostos, ao terem o barquinho de suas vidas levado pelas correntes marítimas das consequências da própria falta de consciência sobre o uso do próprio tempo.



Mas, sabe, mesmo sendo o tempo esse capataz intransigente, é possível superar uma relação de senhor e vassalo e conquistar com o tempo uma relação de amizade, daquele tipo em que os amigos apenas precisam se olhar nos olhos para se entenderem. Entender que por mais que se queira ou que se tenha arte o tempo não volta não nos obriga a uma relação de submissão. Apenas respeito àquilo que é inevitável. E consciência do valor do tempo.

Na verdade, o tempo em si é neutro, são outros os senhores que tentam nos escravizar dizendo agir em nome do tempo. Estes senhores que nos escravizam estão em nossas mentes, vivem nas sombras. Alguns tem até um sorriso sedutor, mas trazem perdas, atrasam nosso caminhar, ensurdecem nossos ouvidos para o som da brisa que sopra na direção do caminho que queremos trilhar. Estes momentos de silêncio nos permitem escapar dos pensamentos condicionados. Escapar da voz errática dos outros. Evitar ser um autômato que apenas reage, e tem sua vida governada pelo encadeamento lógico dos eventos que acontecem na vida de uma pessoa e as leva a reações instintivas.

Aristóteles chocou as pessoas ao afirmar que algumas pessoas tem alma de escravo. Há pessoas que por natureza não pertencem a si mesmas, relegam as decisões sobre sua vida a outra pessoa, para que possam viver despreocupadas em relação à própria existência. A via de menor esforço de apenas se deixar levar, e renunciar a responsabilidade de controlar de acordo com seu melhor julgamento sua própria vida, é ter alma de escravo. 

De uma forma geral, é preciso que nos mantenhamos atentos ao que fecha os olhos da percepção, e saibamos identificar as ilusões criadas em nossa própria mente, que várias vezes nos faz ver o que a mente projeta - e não aquilo que simplesmente é.

Por mais contraditório que possa parecer, para andar no caminho correto, para que se possa andar para frente, é preciso parar de tempos em tempos e permitir-se ouvir o silêncio. Quem corre muito, ansioso para usar o tempo da forma mais humanamente eficiente pode não se dar conta de que está indo em um caminho que não é frutífero. A direção é mais importante que a velocidade. Até porque aquilo que você absorve de informação e aprendizado do caminho trilhado é muito afetado pela velocidade que você imprimiu a cada trecho. Saber ajustar o ritmo àquele que está em sintonia com o seu interior é importante, mas estar com os olhos da percepção abertos, buscando estar consciente do que acontece, de forma imparcial, desapegada e sem formar apressadamente conclusões, permite que a caminhada se enriqueça, de conteúdo, de encantamento, de vida!

Para essa pessoa que se mantém consciente do mundo exterior, que administra aquilo que tem de acordo com seu melhor julgamento, fatiar o tempo é algo que faz parte do conjunto de tarefas "estou trabalhando para mim mesmo". Para essa pessoa, o tempo pode ser um amigo, um amigo sisudo e por vezes desastrado, mas alguém que pode nos ajudar, se soubermos trabalhar os pontos de atrito.

Imagem A Break In Reality - by Xetobyte (devianArt)

quarta-feira, 10 de abril de 2013


A Beleza esta nos Olhos de quem vê

Cada pedra que se assenta na estrada que percorremos na vida é a manifestação de uma entre várias possibilidades. Apenas uma. Uma cadeia de eventos levou aquela pedra a se assentar ali naquele lugar, a ter aquele formato, e há também várias de possibilidades de como aquela pedra será usada ou não na caminhada de cada um. Escolhas diferentes produzirão efeitos diferentes, nos conduzirão a uma corrente de fatos interligados entre si por uma relação de causa e consequências.

Mesmo que "a escolha" seja uma involuntária e inconsciente omissão, produzirá efeitos diferentes, nos conduzirão a uma corrente de fatos interligados entre si por uma relação de causa e consequência. Nossa colheita depende de nosso plantio.

Com nossas decisões a cada momento vamos desenhando um caminho em um labirinto de possibilidades, ligando os pontos que unem cada parte de uma carta geográfica de acontecimentos por onde nosso barco navega. Este barco navega em um oceano de ações, intenções, aspirações, hábitos, priorizações de objetivos, filtro daquilo que pode vir a ser.

Tudo está sujeito a um ponto de vista,  o olhar define a existência das coisas, fatos e pessoas.
Se você vê sua vida como uma piada, seus dias terão muitos momentos de caminhar por entre os palhaços. Se você vê a vida como obra de arte, naturalmente buscará maneiras de se viver com arte, entremeando cores de encantamento no tecido dos dias, sem uma excessiva preocupação com a utilidade de cada peça no arranjo dos dias.

As pessoas passam pelas mesmas situações com reações diferentes. O que é sofrimento para uma, pode ser um desafio envolvente para outra, que se regozija de estar usando seus talentos, aprendendo. A mesma situação de dificuldade pode ser leve para uma e sofridamente pesada para outra, tão somente pela atitude mental que a pessoa tem no momento em que está vivenciando a situação dificultosa.

A forma como vemos os acontecimentos, como classificamos as pessoas, o uso que reconhecemos ser possível nos recursos de que dispomos, o nosso olhar para tudo isso direciona nossas decisões.
Mas nosso olhar nem sempre está aberto para ver as coisas como elas são. Muito do que vemos é filtrado por lentes do que nos foi incutido, pela criação, pela cultura, pelas experiências que criaram ressalvas, e expectativas, boas e más. Nossa mente repetidas vezes tenta encaixar o novo em categorias, simplificar complexidades para tornar o processo de tomada de decisão mais fácil, mais ágil. Neste ponto  experiências pregressas podem distorcer a avaliação de fatos novos. Não raro, a mente tenta buscar evidências que suportem nossas crenças, para que possamos decretar que o que aprendemos em nossas experiências passadas poderá ser utilizado para a solução de problemas novos, o que vez ou outra pode não ser verdade.

Então parece que  a atitude mais indicada para nós aprendizes nesta escola da vida é  a de viver de braços abertos para o fluxo da vida, de manter o olhar atento e a mente silenciosa, uma mente esponja, que absorve sem se preocupar em apressadamente fazer juízo de valor, em classificar o que surge diante dos nossos olhos, de buscar fazer as perguntas certas, sem recorrer ao vício de encaixar respostas que já temos aos questionamentos que os fatos nos colocam.


quarta-feira, 27 de março de 2013

Enxergar além da superfície



Aquela melodia lá no fundo do barulho
Aquela flor vista com o canto do olho
Aquele cheiro que te faz lembrar... 
Uau! aquele momento marcante que você viveu!

Sim, as conexões vão se fazendo a todo momento!

Todas essas coisas que a gente capta...
sem a mente consciente se dê conta...
Aquilo que você percebe sem perceber...
Todos os detalhes que a mente rotula como insignificantes naquele momento, como algo que distrai do que você está fazendo, que te tira o foco, toda essa informação é absorvida pelo seu inconsciente.
Essa informação, como as outras, ramifica emoções, pensamentos, vontades, conecta idéias, forma o que vai ser.

Você aprende mais do que você percebe...

Cada pedaço de informação que seu cérebro absorve revira as camadas de lembranças para se assentar, coloca em suspensão uma poeira que vai causar um espirro conceitual, aquele insight que você tem às vezes um bom tempo depois do fato. 

A mente consciente é apenas a ponta do iceberg. O corpo é apenas um, ocupa apenas um lugar no espaço e faz uma coisa de cada vez, mas a mente tem suas várias camadas, estica seus braços em várias direções, investigando, tentando tocar os conhecimentos, sentir sua textura, apalpar seus significados, em um espreguiçar-se, por vezes uma dança ou uma sessão de Yoga mental/emocional que nem sempre é consciente. Sim, somos humanos, não há pensamentos desprovidos de emoção e não há sentimentos que não estejam revestidos de significados, de conceitos, dos resultados do processo de reflexão.

Experimente a cada dia colocar-se em um momento de silêncio, dando um espaço para colocar-se em conexão com tudo que você absorveu. Faça esse exercício de enxergar além da superfície, sinta toda essa informação que você acumulou dentro de si fervilhar e espere os pensamentos e emoções brotarem como água refrescante de fonte cristalina.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Solidariedade X Não-Intervenção



Cada pessoa tem percorre seu próprio caminho único em direção à descoberta de suas verdades, à montagem dos seus próprios quebra-cabeças, onde as peças são unidas com aquilo que elas tem dentro de si. Assim, cabe a quem está de fora da situação respeitar a forma como aquela pessoa se define enquanto vive.Uma prática de respeito pelo livre-arbítrio das pessoas, que tem liberdade para tomar suas decisões e que carregam a responsabilidade de arcar com as consequências dos seus atos  e omissões, e são as principais afetadas pelos resultados de suas ações. Isso é viver tendo o laissez-faire como princípio direcionador.

Há um momento de parar para pensar, há um momento para ler nas entrelinhas, há um momento para manter sua distância, há um momento para continuar com o seu caminho e desviar o olhar da história daquela pessoa que cruzou o seu caminho.

Mas há um outro lado que coloca em várias situações, que é o dilema entre a não-intervenção e a solidariedade.

Há tempos em que somos levados a agir como um rio que segue para o mar, nosso momento de contribuir com o que somos para algo maior. Há um momento de ser a água que mata a sede de alguém, há um momento de ser aquele que lembra o que aquela pessoa esqueceu, há um momento de ser aquela pessoa que revela o que o olhar do outro não viu, e há sim o momento de compartilhar o que você sabe

Há o momento de assumir o risco de errar com a intenção de ajudar, assumir a responsabilidade daquela intervenção no caminho de alguém que não te pediu nenhuma ação. Risco que decorre da nossa visão parcial, não se pode esquecer que a gente não sabe a bagagem que o outro carrega, o que o levou a estar naquele lugar naquele momento. Há momentos de deixar o outro apenas ser, de respeitar o tempo de cada um. Quando há dentro de um ovo uma ave, e com a intenção de ajudar, quebramos a casca antes do tempo, condenamos este pequeno ser ao fracasso, ou a um início no qual a debilidade daquele ser faz com que cada pequeno passo seja um desafio sofrido.

Mas por outro lado, se apenas o pássaro que sentisse que tinha o melhor canto da floresta cantasse, teríamos florestas silenciosas. Para que se aperfeiçoe o que quer que seja, é preciso começar algum dia, é necessário  praticar as habilidades, desenvolvê-las, descobrir os potenciais dormentes.

Sistematicamente se omitir nos encontros de nossa vida com outras, engessando-se em uma postura de isolamento do que acontece com os outros é descartar uma série de lições importantes para a formação de uma pessoa completa.

 Faz parte do aprendizado o erro e as lições que o erro traz consigo.

É preciso ousadia para assumir erros que não dizem respeito apenas à nossa própria vida, mas quem não assume o risco de que o próprio fracasso seja multiplicado pelo peso da culpa e do arrependimento não alcança aquela altitude onde uma pessoa se torna instrumento do universo, uma parte da engrenagem da vida que dá presentes para alguém. E a vida dá vários presentes, receber estes presentes e não procurar retribuir de volta doando algo de si para a vida vai contra a natureza do ser humano, é uma fonte de desequilíbrio no jogo de forças positivo-negativo. É se omitir naquela chance que nos é dada de dar uma mãozinha, aquele impulso que mantém a corrente do bem tocando as pessoas e ramificando seus efeitos.

Não podemos entalhar em pedra uma atitude perene, uma forma de lidar com os fatos para todo o sempre, há que se reconhecer que não há verdades absolutas, reavaliando a cada situação em que direção seguiremos no dilema não-intervenção/solidariedade. Se trata de olhar com a mesma atenção cada caminho dessa bifurcação antes de decidir por qual direção seguir.

sábado, 23 de março de 2013

A Criança Que Sobreviveu



 Nós seres humanos nascemos bebêzinhos com pouquíssima capacidade cognitiva e vamos de acordo com o desenvolvimento neurológico e psicológico formando tudo que nos define como pessoa. A criança vai crescendo, passa por várias fases, bem reconhecidas e estudadas, algo que aqueles que conviveram com mais de uma criança enquanto esta crescia conhecem bem, pois viram acontecer com pessoas tão próximas. Aquilo que forma um ser humano vai se acumulando,  nos tornamos mais complexos e intelectualmente sofisticados à medida que nosso inventário de idéias, conceitos, habilidades, percepções aumenta com as experiências, aprendizados, descobertas.

Mas é um erro achar que o adulto é a borboleta que deixou o casulo da infância para trás. O grau de amadurecimento de uma pessoa não é linear, as pessoas podem se desenvolver nos vários  campos de habilidades, conhecimentos, percepções em momentos diferentes, de acordo com as oportunidades que surgem para isso, de acordo com os desafios que lhe são propostos pela vida, de acordo com o nível de interesse e de capacidade de germinar as sementes de crescimento pessoal que surgem em sua vida. Assim, a mutação de criança para adulto não é algo que possa ser marcado por um rito de passagem, algo que existiu em tantas culturas. Por vezes, nos surpreendemos vendo crianças de 8, 9 anos se dedicando a reflexões sobre a vida, sobre as pessoas com um nível de sabedoria que muitos adultos não tem, ocupados que estão com o atendimento das demandas de sua vida (compromissos profissionais, acadêmicos, o atendimento da expectativa de pessoas próximas).  Viver apenas em função do que uma pessoa tem que fazer pode transformar as pessoas em algo muito próximo das formigas que carregam folhas em uma pracinha.

Essas formigas fazem seu serviço sem distração, totalmente ignorantes de que além daquela pracinha há todo um mundo, com montanhas com milhares de quilômetros de altitude, praias, fossas abissais nas profundezas dos oceanos, e até que um carrinho-robô anda na superfície de Marte. Há pessoas que vivem assim, uma vida de formiga: acordam, tomam banho, se alimentam em minutos, entram nos seus carros e se conduzem nos engarrafamentos, trabalham o dia inteiro e depois vêem TV antes de dormir, totalmente ignorantes das várias dimensões espirituais e intelectuais que encerram dentro de si como sementes do que pode vir a ser. Há pessoas que perdem a capacidade de brincar de viver, e passam a buscar fontes externas de algo que preencha sua necessidade de encantamento, de preencher as horas vagas disponíveis para diversão com algo que não dê muito trabalho, ou de acumular coisas que aumentem o seu grau de contentamento com a própria vida.

"Quem tem bastante no seu interior, pouco precisa de fora" Johann Goethe

Um adulto é mais completo quando a criança que ele um dia foi sobreviveu às tantas experiências que ele viveu. Experiências que trazem um patrimônio de coisas boas, como já saber o que fazer em uma situação igual ou parecida a uma vivida no passado, agilidade para identificar o que está acontecendo e a atitude mais adequada para aquela situação, inclusive quais situações evitar. Mas a experiência pode também deixar um patrimônio de coisas que nos amarram, como medos, traumas, ressalvas, noções pré-definidas que colocam muito apressadamente coisas novas no mesmo saco de outras que já passaram.

Se trata de saber ser adulto, aprendiz da vida em constante busca de crescimento e evolução mas sem se desfazer da criança que foi. Há tantas coisas na nossa criança interior que fazem bem ao nosso crescimento!


A leveza de não carregar preconceitos, e aqueles pré-conceitos de reconhecer o todo pelas partes, de classificar as pessoas por sinais que percebidos, fazem com que coloquemos aquelas pessoas em determinadas gavetas, devidamente rotuladas. As crianças não estão contaminadas com os não que muitas vezes nos impomos. Uma criança aceita e interage com o sorriso de alguém que sorri para ela sem julgar a pessoa, sem a tentativa de enquadrá-la em uma classificação que determinará suas reações.

A espontaneidade com que elas se envolvem nas oportunidades que surgem nas suas vidas, aquela coisa de estarem sempre abertas para as brincadeiras, onde se aprende brincando.

Aquela imensa e incansável sede de aprender, de descobrir como se faz, os vários porquês que fazem com aquilo seja daquele jeito e não de outro, de querer saber o nome de tudo. A experiência de aprendizagem da criança é uma atitude contemplativa, de esponja que procura absorver o máximo sem julgamento, sem o ruído do "isso eu já sei", que pode acabar distorcendo a percepção das coisas.

O adulto completo é aquela pessoa na qual a criança sobreviveu à vida vivida e está de braços abertos para a vida por vir, para quem o futuro é uma brincadeira nova. O adulto que sabe que não é a seriedade que o separa de uma criança, que vive-se por inteiro, adulto e criança, é capaz de amadurecer de formas que aquele que enterrou sua criança interior simplesmente escolheu ignorar.

terça-feira, 19 de março de 2013

3 DEDINHOS DE PROSA SOBRE RELACIONAMENTOS



SABER REDESCOBRIR O OUTRO

Há pessoas que após um longo tempo de relacionamento acreditam que conhecem bem o outro, e criam definições fixas do que aquela pessoa é, como ela age, o que ela gosta.
É preciso sensibilidade para a cada dia, olhar para aquela pessoa com atenção, pois nós mesmos não temos esse caráter de imutabilidade que tendemos a ver como característica do outro. 
Nesse sentido, é mesmo um exercício interessante a cada dia você olhar para si mesmo e identificar o que há de impermanente. Conscientes de que nossa personalidade, ainda que construída em bases sólidas, está sempre em construção, podemos ver o outro com um olhar mais atento, capaz de notar mudanças milimétricas  na posição que aquela pessoa se assenta no mundo, e questionar rótulos que acabamos colocando naquela pessoa com a convivência.

Nós somos mais do que achamos que somos, há ações nossas que contrariam aquilo que falamos ou pensamos, há tendências que se manifestam na gente sem que tenhamos delas tomado conhecimento, sem que tenhamos delas nos apercebido.

CUIDADO COM O SEU NÍVEL DE INVESTIMENTO

Não se pode superfaturar um relacionamento, atribuindo-lhe a responsabilidade de fornecer algo um gênero de primeira necessidade em sua vida. As interações mais significativas com as pessoas mais queridas em nossa vida são árvores que produzem frutos, flores e sementes, mas cada um tem responsabilidade apenas sobre si mesmo, e deve andar com seus próprios pés o caminho que conduz ao crescimento, à felicidade, a inteireza do ser. 

Assim, é preciso encarar cada relacionamento importante em nossas vidas como aquilo que ele é: uma experiência que te permite desenvolver seus valores pessoais, e que te permite contribuir com a caminhada de outra pessoa, em uma via de mão dupla entre as existências de duas pessoas.  

Não podemos esperar que outro alguém faça o serviço por nós quando se trata de buscar aquilo que te faz se sentir mais completo como pessoa. Cada pessoa é um universo em si mesma.

VOCÊ É RESPONSÁVEL POR SUA VIDA
Achar que alguém te fará feliz, ou que você tem o poder de fazer alguém feliz, é um pensamento vão que pode ser fonte de insatisfação. Cada pessoa é responsável por construir aquilo que trará sua felicidade, sua paz, o prazer de viver.

No entanto, coisas boas também são contagiosas, e bons sentimentos compartilhados com pessoas próximas se multiplicam, se ramificam, e esta é umas das coisas mais bonitas dos relacionamentos.

segunda-feira, 18 de março de 2013

O Tempo que a vida acontece


Os relógios marcam sempre o mesmo tempo, mas o tempo que realmente importa é o tempo marcado pelas batidas do coração. 
Há famas que acreditam piamente na concretude do tempo milimetricamente medida em relógios atômicos, outros cronópios tem a lucidez de entender que esse tempo rigidamente marcado é um abstração, e que o tempo verdadeiro é aquele no qual os eventos que calam sentidos profundos na alma acontecem, tempo que dança variados ritmos.

Os momentos que marcam uma vida, aqueles que ressoam longa e profundamente nas almas, todos eles acontecem dentro desse tempo fantástico, onírico, lado B do tempo abstrato que você vê no seu relógio, no seu calendário.


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Os Cronópios são pessoas alegres, sonhadoras, criativas, sensíveis, capazes de se encantar com coisas pequenas e triviais, naturalmente capazes de  viver poeticamente o mundo. 



"A palavra Cronópio  se compõe da justaposição de dois vocábulos gregos: chrónos (tempo) e ópion** (a substância da famosa papoula, capaz de deixar a pessoa em estado de euforia seguido de um sono onírico). Assim, penso que não ficaria mal se definíssemos os cronópios como seres entorpecidos pelo sentimento do tempo."* 

* Essa definição é parte de um maravilhoso texto que você lê aqui 




Já os famas  são uma alegoria das pessoas que gostam de um mundo muito ordenado, sempre olham no relógio pra tudo, são organizadas, rígidas, com uma tendência sempre presente a enquadrar o mundo em padrões, que empreendem esforço em preparar o terreno por onde planejam andar. Ainda que bem intencionados, tem o costume de julgar as pessoas com a mesma forma rígida com que planejam seus passos.

No livro ‘Historias de Cronopios y de Famas’ (1962), o escritor argentino Julio Cortazar cria uma alegoria de dois lados da mesma moeda que habitam em cada um de nós, que somos a cada dia uma mistura de fama e cronópio, e nos chama a atenção para um mundo fantástico  que se esconde sob o tecido dos dias, imerso nos esquemas estruturados, lógicos, racionais que criamos para nos relacionar comodamente com as coisas rotineiras do nosso dia-a-dia. 


quinta-feira, 14 de março de 2013

SELO PROCEL DE ENERGIA PSÍQUICA

Se as pessoas viessem com um selo que identificasse se elas são difíceis de lidar, o quanto de energia psíquica que precisamos gastar para tratar com elas, evitaríamos alguns dissabores, e preservaríamos nossa paciência, mas por outro lado...

Seria muito pernóstico acreditar que as pessoas não podem mudar, evoluir e ignorar que elas tem seus bons e maus momentos e que não somos necessariamente sempre da mesma forma. Somos humanos, mutáveis e transcendemos os rótulos.

domingo, 10 de março de 2013

LIBERDADE DE AGIR

Um ato só é livre enquanto está se decidindo se o fazemos ou não. Depois de feito, ficamos responsáveis pelas suas consequências, previstas e imprevistas. Esta responsabilidade não se resume à nossa própria vida, pois entremeados no tecido da vida como estamos, nossos atos afetam outras pessoas.

"Entre o sim e o não, a fronteira é bem tênue".
Lao Tsé

São os dois lados de uma mesma moeda.

A nossa percepção das coisas e dos fatos, no entanto, deve transcender a pobreza de definir uma coisa por aquilo que ela não é.





MUDANÇA


O processo de transformação se inicia no mundo interior de cada um de nós, na formação de uma nova conformação da consciência, em um trabalho paciente de reflexão e de busca de conhecimento, de si e da vida.
Mas este é apenas o sopro que infla as velas. A transformação se dá na sua postura, suas ações e renúncias, a evolução verdadeira precisa de movimento para acontecer.

É nestes movimentos, que afetam outras vidas e pelas interações com elas são afetados que a transformação se materializa, que escolhas se solidificam, que certezas se assentam. O ser se define não em palavras pensadas ou faladas, mas com o vocabulário sólido dos acontecimentos dos quais fazemos parte.

sexta-feira, 8 de março de 2013


Então, nos caminhos da vida
A gente acaba encontrando
Uma árvore que não se pode esquecer
Como esquecer de algo que

Dá frutos,

Lança sementes,

Tem raízes que se aprofundam pouco a pouco

Pode-se por distração, desleixo ou pressa
deixar de se olhar para essa árvore
mas ela não deixa de existir, crescer,
oferecer sua sombra, seu abrigo
Onde podemos inclusive relaxar e dar uma cochiladinha
A árvore doa seus frutos da mesma forma

Há pessoas que são assim
A partir do momento que as vidas se cruzam
A árvore está plantada


Essa árvore não precisa de uma etiqueta de metal
identificando-a como uma espécie classificada por especialistas

com nome em latim, aceita pela comunidade científica

Ela simplesmente é, existe com suas texturas, cores e cheiros
...naturalmente!


imagem spanishbomb