domingo, 16 de fevereiro de 2014

O Silêncio que Abre as Janelas

Em uma breve fala que ouvi no rádio, uma jovem citava os benefícios da meditação para a redução do nível de estresse de uma pessoa, dizia ela que proporcionava uma série de mudanças no estado mental de uma pessoa que até o sono era mais tranquilo.

A defensora dos benefícios da meditação, que estava divulgando a campanha 5 Minutos Eu Medito, dizia que as pessoas poderiam fazer um exercício simples, de apenas observar a própria respiração e tentar não pensar em nada por 5 minutos. Mais do que simplesmente obter benefícios no estado mental, tornando-se uma pessoa em paz consigo mesma e com o mundo, a meditação tem sido utilizada ao longo dos séculos como prática de autoconhecimento, de conexão com um nível de inteligência mais interno, soterrado por camadas de racionalização, de conteúdos culturais aprendidos, de coisas que nos disseram ao longo de toda nossa vida e que fornecem os tijolos para formar nossos pensamentos. Pois bem, a meditação pode servir para entrar em contato com um nível de consciência que é diferente da camada intelectual, uma inteligência que não é mental, é orgânica, não é da personalidade, é do espírito, não é do cérebro, é do ser, daquilo que está contido em nosso corpo mas que habita outras vidas.

Mas enquanto eu ouvia a representante da ONG falando no rádio e pensava nesses caminhos que a meditação nos permite percorrer, me veio forte a vontade de refletir sobre o efeito que  esvaziar a mente me traz. Não pensar em nada me coloca em um modo esponja. Nesse momento em que eu me liberto dos meus próprios pensamentos, quer sejam pensamentos cíclicos, quer sejam um exercício de planejamento de tarefas ou um reviver de eventos para analisá-los e enxergá-los sob óticas diferentes, liberto das premências do fato que está acontecendo e que nos impele a ações e reações, bem, nesse momento de vácuo intelectual se abrem várias janelas de percepção. No silêncio da mente, todos os sentidos se aguçam e o poder de observação entra em primeiro plano, e eu olho para o mundo que me rodeia com uma avidez de internalizar seus conceitos, identificar os padrões, olhar as minúcias dos detalhes. É um estado de receber informação, sem compromisso de processar esta informação naquele exato momento. Não é o momento de fazer julgamentos apressados, de chegar a conclusões, nem de confirmar hipóteses. É o momento de ampliar a consciência sobre o que está acontecendo.

Não sei se esse estado pode ser caracterizado como um tipo de meditação, uma meditação voltada para fora, para a aquisição de conhecimento e para a descoberta de tudo, inclusive perguntas e dúvidas quanto à veracidade de conceitos que temos. Não sei que nome dar a esse exercício, um nome que possa ter pertinência semântica e que o permita ser entendido universalmente, pois no meu próprio sistema vocabular já tem nome ("Estado Esponja"), mas com certeza é uma habilidade que bem desenvolvida permite à uma pessoa crescer intelectualmente, identificar corretamente as situações e traçar os planos de ação com o pé no chão.

Se você acha difícil parar cinco minutos e não pensar em nada, e ficar só absorvendo informação do mundo que o cerca, lembre-se que você já fez muito isso quando era um bebê curioso. Foi assim que você começou a aprender tudo.