quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Parar e Olhar


De vez em quando é preciso parar.

Parar e ver a vida que se descortina ante nossos olhos. De olhar e de ver com olhos de ver.

Saber olhar sem ser pelo canto do olho, aprender a olhar de frente o outro, as coisas, os espaços, os tempos. E saber ver, mesmo o que nos é ocultado pelas palavras, palavras que muitas vezes direcionam nosso olhar para ver, mesmo que sejam palavras nascidas nos nossos próprios pensamentos! 

Olhar com olhos de ver. De ver o essencial do mundo e da vida. Mas também de ver os pormenores sutis que fazem a diferença. O que fica nos detalhes, que a pressa de ver as coisas prontas não nos deixa ver. 

Olhar.Para rasparmos a tinta com que nos embotaram os sentidos, como recomendava o poeta Alberto Caeiro, nessa outra face de Fernando Pessoa. Para desaprendermos de tudo aquilo que nos corrói a esperança, nos aliena e oprime. E de tudo que cala a nossa voz, que nos impede de vivermos intensamente. De sermos verdadeiros com a nossa própria essência.

Dizia Saramago no Ensaio sobre a Cegueira: "se podes olhar, vê; se podes ver, repara'" Para não não ficares indiferente. Para compreender.

Declaro-me Vivo

"Saboreio cada momento.
Antigamente me preocupava quando os outros falavam mal de mim.
Então fazia o que os outros queriam, e a minha consciência me censurava.
Entretanto, apesar do meu esforço para ser bem educado,
alguém sempre me difamava.
...Como agradeço a essas pessoas, que me ensinaram que a vida é apenas um cenário!
Desse momento em diante, atrevo-me a ser como sou.
A árvore anciã me ensinou que somos todos iguais.
Sou Guerreiro:
a minha espada é o Amor,
o meu escudo é o Humor,
o meu espaço é a Coerência,
o meu texto é a Liberdade.

Perdoem-me, se a minha felicidade é insuportável, mas não escolhi o bom senso comum.
Prefiro a imaginação dos indios, que tem embutida a inocência.
É possível que tenhamos que ser apenas humanos.
Sem Amor nada tem sentido, sem Amor estamos perdidos, sem Amor corremos de novo o risco de estarmos caminhando de costas para a luz.
Por esta razão é muito importante que apenas o Amor inspire as nossas ações.
Anseio que descubras a mensagem por detrás das palavras;
não sou um sábio, sou apenas um ser apaixonado pela vida.

A melhor forma de despertar é deixando de questionar se nossas ações
incomodam aqueles que dormem ao nosso lado.
A chegada não importa, o caminho e a meta são a mesma coisa.
Não precisamos correr para algum lugar, apenas dar cada passo com plena consciência.
Quando somos maiores que aquilo que fazemos, nada pode nos desequilibrar.
Porém, quando permitimos que as coisas sejam maiores do que nós,
o nosso desequilíbrio está garantido.
É possível que sejemos apenas água fluindo;
o caminho terá que ser feito por nós.
Porém, não permitas que o leito escravize o rio, ou então, em vez de um caminho, terás um cárcere.

Amo a minha loucura que me vacina contra a estupidez.
Amo o amor que me imuniza contra a infelicidade que prolifera,
infectando almas e atrofiando corações.
As pessoas estão tão acostumadas com a infelicidade, que a sensação de felicidade lhes parece estranha.
As pessoas estão tão reprimidas, que a ternura espontânea as incomoda,
e o amor lhes inspira desconfiança.

A vida é um cântico à beleza, uma chamada à transparência.
Peço-lhes perdão, mas…. DECLARO-ME VIVO!"

(Chamalú Indio Quechua)

sábado, 26 de novembro de 2011

Por Escolha e não por Acaso






Escolho viver minha vida através de minhas escolhas
e não levado pelo acaso

Escolho ser o agente da mudança
e não perder tempo dando desculpas


Escolho superar-me no que faço
e não competir com quem quer que seja

Escolho ser útil
e não ser usado

Escolho ter auto-estima
e não auto-comiseração


Escolho ouvir minha voz interior
e não o que dizem por aí, de forma leviana

Texto original em Inglês: Autor desconhecido

Design gráfico - Bruno Lonx

ESTADO DE GRAÇA


"Quem já conheceu o estado de graça reconhecerá o que vou dizer. não me refiro à inspiração, que é uma graça especial que tantas vezes acontece aos que lidam com arte.

O Estado de graça de que falo não é usado para nada. É como se viesse para que se soubesse que realmente se existe. Nesse estadi, além da tranqüila felicidade que se irradia de pessoas e coisas, há uma lucidez que chamo só de leve porque na graça tudo é tão, tão leve. é uma lucidez de quem não advinha mais: sem esforço, sabe. Apenas isto: sabe. Nção perguntem o quê, porque só posso responder do mesmo modo infantil: sem esforço, sabe-se.


E há uma bem-aventurança física que a nada de compara. O corpo se transforma num dom. E se sente que é um dom. E, se sente que é um dom que se está experimentando, numa fonte direta, a dádiva indubitável de existir materialmente.



Há dias que são tão áridos e desérticos que eu daria anos de minha vida em troca de uns minutos de graça."



CLARICE LISPECTOR

Fragmento de crônica publicada em 06/04/1968

A Hora Mágica


Os primeiros raios de sol tingem as paredes externas da casa de laranja. O céu está surpreendentemente limpo, sem nuvens, após vários dias de insistente e incomoda chuva.
Estou só, semi-nu, meio tonto meio faminto, trancado do lado de fora, desabrigado, depois de várias horas tentando vencer inutilmente uma insônia inexplicável.
Só, totalmente só...mas a solidão é glamourosa na praia. Não é uma solidão sofrida, uma falta de algo, é um exílio de si mesmo, de nossa própria vida cotidiana,
um breve espaço de tempo no qual a engrenagem da vida pula um dente, um espaço prolongado por algumas horas.
Um instante sabidamente efêmero, destinado a se perder na memória.
Uma ansiedade prenúncio de uma transformação que termina não acontecendo,
    um insight que eu acabo esquecendo, um delicioso nada.

 Um pensamento-sentimento que ficará perdido eternamente no limbo.

 Tremo de frio, a musculatura do rosto está rígida. Então, tão inesperadamente como surgiu,
 este momento se dissipa no tempo.

Levanto e vou cuidar da minha vida.

Bruno Lonx

O Vestido Azul


Havia no parque da cidade uma garota sentada sozinha num banco, muito triste. Todos por ela passavam e ninguém parava para
ver porque estava triste. Trajada com um vestido azul desgastado pelo tempo, descalça e suja, a garota permanecia sentada,
imóvel, apenas observando as pessoas passarem. Não fazia menção de falar, nem mesmo de sussurar.
Muitos passavam por ela e ninguém a notava.

Mas a imagem daquela garota ficou remoendo na minha mente.


No dia seguinte decidi voltar ao parque para ver se encontrava aquela garota. E lá estava ela, no mesmo lugar,
com a mesma expressão triste. Hoje eu não ia deixar esta garota passar em brancas nuvens. Pelo menos tentaria
fazer alguma coisa por aquela garota. Ora, um parque cheio de estranhos não é o lugar mais apropriado parava
uma garota sozinha.Ao me aproximar, percebi uma volume estranho nas costas da garota.

Vi então porque as pessoas evitavam olhar para a garota. As pessoas preferem ignorar aquilo que é desagradável.
À medida em que me aproximava da garota, ela abaixava seus olhos, evitando meu olhar observador. Mais próximo dela,
pude ver o formato de suas costas com mais detalhes, grotescamente curvadas em uma enorme corcunda.
Sorri, para que ela visse que estava tudo bem, que estava ali para ajudar, para conversar, oferecer um ombro amigo.
Sentei-me ao seu lado e disse "Olá!". A garota meio surpresa, balbuciou um tí­mido "oi", depois de um longo olhar para meus olhos.
Novamente sorri para ela e ela sorriu de volta.

Conversamos por algumas horas, e o parque foi se esvaziando. Perguntei à  garota porque ela estava tão triste.
Ela me olhou melancolicamente e disse "porque sou diferente!", no que eu retruquei "Sim, é mesmo."
"Veja, minha flor, você é como um anjo da guarda observando todas estas pessoas que passam por este parque."

Ela fez que sim com a cabeça e seu rosto se iluminou com um sorriso. Então, abriu o seu vestido nas costas
e surgiram duas asas imensas, e disse: "Sou mesmo. Sou seu anjo da guarda", disse com um brilho em seus olhos.

Fiquei estarrecido, devia estar vendo coisas!
Ela disse: "Finalmente você pensou em outra pessoa que não apenas em si próprio. Minha missão aqui está concluída."
Pus-me de pé e disse: "Espere, não vá ainda. Diga-me porque ninguém parou para ajudar um anjo?"

Ela respondeu: "apenas você podia me ver" e foi-se embora rapidamente,
com uma lufada de ar refrescante vinda de suas asas me atingindo em cheio.

Aquilo me marcou para toda a vida.

História recebida por e-mail, autor desconhecido
O quadro é Linda Sitting in a Blue Dress - Annie Howell-Adams

Óbvio, né? Dã!

Algumas pessoas acham que ser inteligente é não fazer perguntas, observar e concluir. Entretandto, peerceber as coisas rápido nem sempre é ver as coisas como elas SÃO, às vezes só se vê o que PARECE SER. 

Aquela perplexidade da criança que pergunta "por que? por Que?", querendo saber como, onde, quem , as causas por trás dos efeitos, e as causas das causas, num saudáel e relevador exercício de investigação de uma realidade sempre nova, essa perplexidade muitas vezes é deixada de lado cedo demais. As pessoas acabam concluindo com base em indícios, tomam como verdade os pedaços de pensamento que lhe são apresentados para consumo, rapidamente juntam A com B e obtêm conclusões que consideram como manifestação de sua notável inteligência. Experimente perguntar a estas pessoas se o que parece ser A é mesmo um A. Eles e elas dirão:

- Óbvio, né! Dãh!

Nem sempre a verdade é óbvia, o óbvio pode ser uma ilusão, e esta desconfiança não o torna uma pessoa lerda ou burra. Pode ser que após percorrermos o caminho reflexivo do questionamento, após investigar os fundamentos da verdade que nos é apresentada, acabemos por concluir que o que o rápido processador de pensamentos ao nosso lado estava certo. Mas sabemos que em uma situação o onde o pensador de linha de montagem seria ludibriado, nós tivemos um olho clínico para descobrir a farsa. Atalhos podem ser perigosos, o lobo mau prestidigitador de pensamentos pode estar à  sua espreita, Chapéuzinho Vermelho. 

Aquele A, na verdade era um 4 com uma sujeirinha em cima. Tão rápido você viu o "óbvio" que nem percebeu a diferença.

A Unanimidade é burra!
Nelson Rodrigues

Sensibilidade Inteligente

Pessoas que às vezes querem me elogiar chamam-me de inteligente. E ficam surpreendidas quando digo que ser inteligente não é meu ponto forte e que sou tão inteligente quanto qualquer pessoa. Pensam inclusive que estou sendo modesta.

É claro que tenho alguma inteligência: meus estudos o provaram, e varias situações das quais me saí por meio da inteligência tambem provaram. Além do que posso, como muitos, ler e entender alguns textos considerados difíceis.
Mas, muitas vezes a minha chamada inteligência é tão pouca... como se eu tivesse a mente cega. As pessoas que falam de minha inteligência estão na verdade confundindo inteligência com o que chamarei agora de sensibilidade inteligente. Esta, sim, várias vezes tive ou tenho.
 
E, apesar de admirar a inteligência pura, acho mais importante, para viver e entender os outros, essa sensibilidade inteligente. Inteligentes são quase que a maioria das pessoas que eu conheço. E sensíveis tambem, capazes e sentir e de se comover. O que, suponho eu, eu uso quando escrevo, e nas minhas relações com os amigos, é esse tipo de sensibilidade. Uso-a mesmo em ligeiros contatos com pessoas, cuja atmosfera tantas vezes capto imediatamente.
Suponho que este tipo de sensibilidade, uma que não só se comove como, por assim dizer, pensa sem ser com a cabeça, suponho que seja um dom. E, com um dom, pode ser abafado pela falta de uso ou aperfeiçoar-se com o uso. Tenho uma amiga, por exemplo, que além de inteligente, tem o dom da sensibilidade inteligente, e , por profissão, usa constantemente este dom. O resultado então é que ela tem o que eu chamaria de coração inteligente em tão alto grau que a guia e guia os outros como um verdadeiro radar.

Clarice Lispector, texto escrito em 2/11/1968

Dica de Filme: o Ano Passado em Marienbad - Alains Resnais(1961)

...desertos, sobrecarregados por adornos de outro seculo, salas silensiosas onde os passos de quem anda são abafados por tapetes tão pesados e espessos...que nenhum barulho chega ao seu ouvido...como se o ouvido de quem anda por esses corredores pelos salões e galerias da construcão de outro século...esse hotel imenso, luxuoso, barroco, lúgubre...(Inaudível) onde corredores sem fim se sucedem a outros, silenciosos, desertos...sobrecarregados por adornos escuros, forros de madeira...tetos, painéis emoldurados, mármores, espelhos negros...quadros com tintas negras, colunas...molduras esculpidas, fileira de portas...galerias, corredores transversais... salas silenciosas onde os passos de quem anda são abafados por tapetes tão pesados e espessos...(inaudível)como se o chão ainda fosse de areia e pedregulho...onde ladrilhos de pedra por onde eu ia, mais uma vez por esses corredores... pelos salões e galerias da construcão de outro século....esse hotel imenso, luxuoso, barroco, lúgrube...(inaudível) Por onde eu ia novamente, como se fosse ao seu encontro...por entre estas paredes revestidas de madeira...tetos, molduras, quadros, gravuras emolduradas por entre as quais eu vinha...por entre as quais já estava...eu mesmo...à sua espera...bem longe desse cenário onde me encontro agora...à sua frente, à espera daquele que não virá mais...que não poderá mais nos separar de novo...e tirá-la de mim...
Ela: é preciso esperar ainda...alguns minutos, mais que isso, uns segundos... Ele: mais uns segundos ainda, concordo...como se hesitasse ao se separar dele, de você mesma...como se sua silhueta cinzenta pudesse ainda aparecer...aqui mesmo onde você imaginou com tal ardor...tal receio ou esperança...por medo de perder esse laço fiel com...ela: não...Não...essa esperança... não faz mais sentido. O medo de perder tal laço, tal prisão, tal mentira...esse medo já passou. Agora essa história passou. Vai acabar...Ele: mais alguns segundos...e ficará cravada num passado de marmore...como essas estátuas e jardins...esse mesmo hotel e suas salas já desertas...seus personagens imóveis, mudos...mortos há muito tempo...e que ainda montavam guarda nos corredores...pelos quais eu ia ao seu encontro...entre duas fileiras de rostos imóveis, fixos, atentos...indiferentes desde sempre...você que talvez ainda hesite...olhando sempre a entrada desse jardim. PLlM, PLlM, PLlM! Pronto agora sou sua
Fecha o pano. A Platéia bate palmas.

O Ano Passado em Marienbad (1961)

 


Mais que apenas uma obra-prima, um magistral exemplar de Cinema-Arte, transcendo o mero rótulo orientador para um mercado de consumo de produtos cinematográficos, revelando-se um exercício de produção de arte usando o suporte do celulóide, da linguagem cinematográfica que este filme usa e na qual inova, este filme é seminal, e influenciou tantos outros ótimos filmes. 2001, Uma Odisséia no Espaço, Memento, Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, Quero ser John Malkovitch, O Iluminado, Mulholland Drive, e outros que ainda não vi, mas que implícita ou explicitamente homenageam este filme e bebem em sua fonte.

Mas e a história? Qual é a história deste filme? Ora, não é bem uma história, é algo mais parecido com um sonho, uma vaga lembrança. Em uma narrativa inovadora, lembrem-se que este filme é de 1961, Alain Resnais faz uma alegoria da memória, pelos escaninhos da memória, onde o tempo, o espaço, os diálogos, a identidade das pessoas se apresentam fragmentadas, distorcidas, vívidas e vagas, contraditórias e repetitivas, num jogo eterno de claro e escuro, que a hipnótica fotografia espelha. Este filme carece de uma sala escura e uma boa tela para melhor fruição, e nunca poderia ter sido feito em cores. 

Aviso logo que é um filme que não é para todos, e quem se arrisca aos seus 90 minutos tem que estar no estado de espírito certo para ser atingido pelo seu feitiço, pois é lento, repleto de um palavrório denso, repetitivo, caótico e o diretor não se dá ao menor trabalho de tornar a história mais compreensível. Mas quem gostar, pode assistir 20 vezes que ainda achará coisas novas não notadas antes. Eu só vi 3, mas outros já viram mais vezes e pelo que vi tenho razões para acreditar nos relatos.

Bem, vamos à história. A, elegantemente interpretada por Delphine Seyrig, acompanhada de M (Sacha Pitöeff), que pode ou não ser seu marido, estão em um suntuoso palácio-hotel em Marienbad, onde encontram outros aristocratas como eles, cultos e refinados em suas amenidades, entre eles X(Giorgio Albertazzi), que insistentemente tenta convencer A a fugir com ele. Marienbad pode ou não existir, A pode ou não ter encontrado X no passado. A pimeira vez que A e X se encontram A lhe pergunta se ele não a conhecia de seus sonhos, X não responde, em seus olhos se vê que não, mas seria um Deja vu, um sinal? X lembra de ter tido um caso com A, e de que combinaram se encontrar em Marienbad um ano depois para concretizar a fuga, mas A não o reconhece. Seria tudo isto imaginação de X? Seria um devaneio de M, enciumado, que imagina X, inexistente? Seria esta lembrança tão viva algo acontecido em outro lugar, com outra pessoa? Todas as possibilidades estão abertas. Embalados por uma música incidental sombria, proveniente de um órgão, uma arquitetura labiríntica e barroca, o desenrolar das cenas (lembranças? Devaneios?) cria um clima hipnótico e a fotografia claro-escuro nos delicia a visão. Os personagens secundários neste filme são pastiches de seres humanos, vagas lembranças cujas conversas se repetem eternamente, personagens mortos há muito tempo e que ainda montavam guarda (mais ou menos congelados) nos corredores deste hotel imenso, luxuoso, barroco, lúgrube, repleto de espelhos e Tromp L´oeil, no qual o tempo e o espaço estão em constante mutação, na narrativa circular e onírica construída por Resnais, com uso de imagens provocativas e linguagem experimental, com uma estudada qualidade de coisa sonhada, violando uma série de convenções então vigentes na edição, cinematografia e continuísmo. Algumas frases neste filme me lembraram um metrônomo, marcando o tempo, um tempo mental diferente do tempo cronológico.

Seria a memória aqui um arquivo do passado vivido, um processo criativo, um devaneio fantasioso? Assista o filme e me diga.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Troca de Presentes


Desejo que seu dia seja repleto de uma sucessão de agoras interessantes, gentilezas, sorrisos sapecas...e uma alegriazinha introna...que senta do seu lado sem pedir licença!

Desejo que o seu seja repleto de tonalidades leves e suaves que inspire a viver cada instante de forma intensa e única... desejo sabores que façam você saber que cada mordida de minuto vale uma eternidade.

:-)

Reciclagem II

SONS QUE ACALMAM  O sinal no teatro avisando que o espetáculo vai começar... O telefone tocando bem no horário combinado... O barulho da chuva forte no meio da madrugada qd vc esta no quentinho da sua cama... O toque do interfone qd vc aguarda a chegada do namorado. Ou mesmo a chegada da pizza... O aviso sonoro do torpedo do celular (principalmente qd se esta apaixonada)... O sinal da hora do recreio... O aplauso depois q vc falou pra uma platéia... O primeiro eu te amo dito por quem vc começou a amar... E o mais raro e sublime: o silencio absoluto! 
Martha Medeiros
 SONS QUE ME FAZEM SORRIR um OIEEEE de uma pessoa que ficou feliz de te encontrar...O telefone tocando bem quando você vê no BINA que é uma pessoa que te faz muito bem, e te ligou do nada... O barulho da cachoeira depois de uma ladeira sinistra num calor de rachar... O barulho da fechadura quando a pessoa amada chegou em casa. Ou o som do interfone quando chegou a pizza... O aviso sonoro do torpedo do celular (principalmente quando você jogou uma flor em forma de palavras e o retorno está chegando)... O sinal da hora do recreio... O aplauso depois que você falou pra uma platéia... O primeiro eu te amo dito por quem você começou a amar... E o mais raro e sublime: o silêncio absoluto, quando você está com alguém que te olha e te entende.
 Bruno Lonx

Reciclagem

"Aprendi que a humildade mora em corações alados que não carregam o peso do orgulho. Que respeito é par constante da admiração. E que só a generosidade é capaz de descongelar sentimentos frios."

Renata Fagundes
Aprendi que a atitude mora em corações alados que não carregam o peso da culpa, do medo e da mágoa. Que dar carinho é par constante da afeição. E que só um sentimento verdadeiro, um gostar bem guardado dentro do coração é capaz de quebrar muros feitos de tijolos de apesar e abrir a porta do rosto que se chama sorriso.

Bruno Lonx
 

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A Arte de Ser Feliz


Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma regra: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.'

Pensar e Sentir

Eduardo Galeano é uma pessoa que adora jogar conversa fora. Uma vez, passando pela Praça Catalunya (Barcelona) teve filmada uma conversa que teve com um dos jovens acampados em um protesto por mudanças no sistema político, por acreditarem que da forma como as coisas estão, os políticos não representam a vontade da população. Esse movimento, que começou 15 de maio de 2011 em 58 cidades espanholas, recebeu da mídia os nomes de Movimiento 15-M, Indignados ou Spanish Revolution. 

Quando o jovem perguntou ao Galeano o que aconteceria depois do protesto, ele respondeu algo que se aplica a muito mais coisas na vida que apenas a dimensão politica e de luta pela cidadania. Trouxe aqui alguns trechos que me tocaram mais, mas vale a pena ver a fala dele na íntegra (procure Eduardo Galeano en la #acampadaBCN PT)

 - E depois? O que vai acontecer?
"Bom...nada! Não sei, não sei o que vai acontecer!
E na verdade, não me importa muito o que vai acontecer.
Me importo com o que está acontecendo.
Me importa o tempo que é.
Não temos que planejar tudo como se estivéssemos fazendo o balanço de um banco.
Receitas, despesas, dívidas, saldo, expectativas, estatísticas, probabilidades, cenários!
Goya já dizia: A razão cria monstros!
Cuidado com quem somente raciocina! Há que se pensar e sentir! E quando a razão se divorcia do coração, comece a tremer!
eu creio nessa fusão difícil, mas necessária, entre o que se sente e o que se pensa.
A sabedoria que me interessa é a que combina o cérebro com as tripas. Essa que combina tudo o que somos, tudo! Sem esquecer de nada! "

Carta ao Futuro

Prezado Senhor Futuro,

Com a minha maior consideração:
Estou lhe escrevendo esta carta para pedir-lhe um favor. O senhor saberá desculpar-me o incômodo.
Não, não tema, não é que queira conhecê-lo. O senhor há de ser muito solicitado, haverá tanta gente que quererá ter o prazer; mas eu não. Quando alguma cigana me toma a mão para ler-me o porvir, saio correndo em disparada antes que ela possa cometer tal crueldade.
E, no entanto, você, misterioso senhor, é a promessa que nossos passos perseguem querendo sentido e destino. E é este mundo, este mundo e não outro mundo, o lugar onde o senhor nos espera. A mim e aos muitos que não acreditamos nos deuses que nos prometem outras vidas nos mais longínquos hotéis de Mais Além.
E aí está o problema, senhor Futuro. Estamos ficando sem mundo. Os violentos o chutam, como se fosse uma bola. Jogam com ele os senhores da guerra, como se fosse uma granada de mão; e os vorazes o espremem, como se fosse um limão. A este passo, temo, mais cedo do que tarde, o mundo poderá ser não mais do que uma pedra morta girando no espaço, sem terra, sem ar e sem alma.
Disso se trata, senhor Futuro. Eu lhe peço, nós lhe pedimos, que não se deixe desalojar. Para estar, para ser, necessitamos que o senhor siga estando, que o senhor siga sendo. Que o senhor nos ajude a defender a sua casa, que é a casa do tempo.
Quebre-nos esse galho, por favor. A nós e aos outros: aos outros que virão depois, se tivermos depois.

Saúda-te atentamente,

Um Terrestre

Sorriso



O sorriso é uma janela no seu rosto que mostra às pessoas que você está em casa

Autor desconhecido

Imagem: DeviantArt

A Xícara de Chá


 
 
"Os orientais dizem: para beber vinho em uma xícara de chá, é necessário primeiro jogar fora o chá para depois beber o vinho. Ou seja, para aprender o novo,é necessário desaprender o velho." 

Ha-ha! Discordo!!!

Não é preciso jogar nada fora. Bebe-se o chá, com o necessário vagar, e terminada completamente sua fruição, depois de sentir o chá nos esquentando por dentro, depois de saborear todo o seu sabor, com uma xícara vazia, nela colocamos o vinho e o todo o ciclo de descobrir as nuances do paladar começa novamente. Nem sempre fazer escolhas é renunciar, cada coisa tem seu tempo. Como no exemplo acima, também na vida, o desperdício irracional pode se apresentar como solução mais óbvia, mas há sempre outras formas de beber o vinho.
 
Cada conhecimento que adquirimos nos acrescenta. É o hábito de cometer velhos erros que nos atrasa. Cada coisa tem seu tempo, mas o que nos fez crescer, o que nos fez mais felizes, isso a gente guarda.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Saint-Exupery, Caio e Padre Quevedo

Um dia, num banco de praça se encontraram para uma conversa à toa Antoine de Saint-Exupery, Caio Fernando Abreu e o Padre Quevedo.

Saint-Ex disse:
Se o teu amor despreza os sinais do amor a pretexto de atingir a essência, o teu amor não passa de um palavreado. Não descuides as felicitações, nem os presentes, nem os testemunhos.Serias capaz de amar a propriedade, se fosses excluindo dela, um por um, como supérfluos, porque particulares demais, o moinho, o rebanho, a casa? Como construir o amor, que é rosto lido através da urdidura, se não há urdidura sobre a qual escrever?
Sem cerimonial de pedras, não haveira catedral.

Nem haverá amor sem cerimonial em vistas do amor. Eu só atinjo a essência da árvore se ela modelou lentamente a terra segundo o ceriomonial das raízes, do tronco e dos ramos. Nessa altura, ela é una. Tal árvore e não uma outra.

Ora o amor não é tesouro a conquistar, mas obrigação de parte a parte, fruto de um cerimonial aceite, rosto dos caminhos da troca.

Caio estava com o olhar distante...e soltou essa, olhando para uma flor num canteiro não muito distante dali:
Tolo eu..que por receber carinho me senti amado!
Padre Quevedo então com sua expressão grave disse:
Sim,é possível ter carinho sem ser amado, de fato algumas pessoas esvaziam a palavra amor de sentido por usarem-na de forma leviana e descartável, mas...
Amar e não dar carinho...ISSO NÃO EKXISTE!

Olhando-se no Espelho

Assim como a gente penteia os cabelos antes de sair de casa, antes de iniciar uma interação com uma pessoa, é preciso arrumar o coração.

Não é justo nem elegante trazer para interações novas ruídos de outras interações. Cada pessoa é de um jeito, cada interação tem sua própria dinâmica, suas cores são únicas.

Bruno Lonx

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

No Teatro da Vida

A vida é uma peça de teatro com um elenco incrível, mas me escalaram sem me dar uma cópia do roteiro e não há tempo para ensaiar. Como proceder?

Bem, parece que o jeito vai ser improvisar, usar tudo o que sei e prestar atenção nas deixas dos outros atores e atrizes, para saber se a cena é de drama ou de comédia!

Tempo

Seu tempo é como um cheque que você desconta no banco. Esse dinheiro você pode gastar como quiser, mas só pode descontar o cheque uma vez.

...e também tem cheque sem fundo na vida. Você gasta seu tempo com uma coisa e aquilo não te rende nada.

Bruno Lonx

Honolável Mestle III


Deixar de ser um copo, para ser um lago.

O velho Mestre pediu a um jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal em um copo de água e bebesse.

-Qual é o gosto? – perguntou o Mestre.

-Ruim – disse o aprendiz.

O Mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago.

Os dois caminharam em silêncio e o jovem jogou o sal no lago. Então o velho disse:

-Beba um pouco dessa água. Enquanto a água escorria do queixo do jovem o Mestre perguntou:

-Qual é o gosto?

-Bom! Disse o rapaz.

-Você sente o gosto do sal? perguntou o Mestre.

-Não! Disse o jovem.

O Mestre então sentou ao lado do jovem, pegou em suas mãos e disse:

-A dor na vida de uma pessoa não muda, mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é aumentar o sentido de tudo o que está à sua volta.

É dar mais valor ao que você tem do que ao que você perdeu. Em outras palavras é deixar de ser copo, para tornar-se um lago.



História contada por Adriana Vilela

Pensando Leve

Em certos momentos, a atitude mais sábia é abandonar os pensamentos graves, sérios, adultos e simplesmente caminhar...

...LIVRE, LEVE, SOLTO...

...pois quando nos despimos dessa coisa solene de olhar a si mesmo e aos problemas no microscópio, a vida se torna mais alegre e mais fecunda.

Viver

Viver não é cumprir nenhum destino, não é ser empurrado ou rasteirado pela sorte. Ou pelo azar. Ou por Deus, que também tem a sua vida. Viver é ter fome. Fome de tudo. De aventura e de amor, de sucesso e de comemoração de cada um dos dias que se podem partilhar com os outros. Viver é não estar quieto, nem conformado, nem ficar ansiosamente à espera.
Viver é romper, rasgar, repetir com criatividade. A vida não é fácil, nem justa, e não dá para a comparar a nossa com a de ninguém. De um dia para o outro ela muda, muda-nos, faz-nos ver e sentir o que não víamos nem sentíamos antes e, possivelmente, o que não veremos nem sentiremos mais tarde.

Viver é observar, fixar, transformar. Experimentar mudanças. E ensinar, acompanhar, aprendendo sempre. A vida é uma sala de aula onde todos somos professores, onde todos somos alunos. Viver é sempre uma ocasião especial. Uma dádiva de nós para nós mesmos. Os milagres que nos acontecem têm sempre uma impressão digital. A vida é um espaço e um tempo maravilhosos mas não se contenta com a contemplação. Ela exige reflexão. E exige soluções.

A vida é exigente porque é generosa. É dura porque é terna. É amarga porque é doce. É ela que nos coloca as perguntas, cabendo-nos a nós encontrar as respostas. Mas nada disso é um jogo. A vida é a mais séria das coisas divertidas.

Joaquim Pessoa

Sobre o Conhecimento


Alguns o adquirem por meio da observação, do estudo da situação e de cuidadosa reflexão.

Outros o adquirem movidos por um desconfortável sentimento de ignorância, por perceber que as coisas não são tão simples como pareciam.

Mas, uma vez adquirido o conhecimento, o efeito dessa posse é o mesmo.

Alguns o põe em prática com naturalidade.

Alguns movidos pelo desejo de colher seus frutos.

Outros por meio de um exaustivo esforço de quebrar velhas manias, de desconstruir hábitos de anos.

Mas quando se vence um desafio graças ao conhecimento, o resultado final é o mesmo.

domingo, 20 de novembro de 2011

Pedro e o Lobo - contado por Bruno Lonx


Era uma vez, um menino chamado Pedro. Ele vivia com seu avô em uma casa com jardim, cercada por um muro de pedra.
Do outro lado do muro, ficava uma campina com um lago e uma árvore bem alta. Depois da campina, havia uma floresta cerrada e escura.
Ora, esta é a história de Pedro e o Lobo, então havia mais coisas nesse lugar que apenas a casa onde Pedro morava com seu sábio avôzinho.
Havia um passarinho leve e delicado, com penas muito lustrosas e muito ágil.
Havia um pato bobo, com um bico largo e comprido e patas gigantes. Andava bem desengonçado fora da água, mas na água era ligeiro e desinibido.
Havia também uma gata de pêlo castanho, bem fofinho. Ela era gulosa e vaidosa que só ela.
Mas nem tudo era bom e belo nesse lugar, pois havia um lobo grande e cinza, com garras e dentes afiados.
Ele era silencioso no seu andar, e sempre! Sempre estava faminto!
Esse lobo causava muitos prejuízos para os fazendeiros daquela região, pois comia de tudo:
Ovelhas, carneiros, galinhas e até vacas de leite esse voraz lobo devorava!
Por isso, havia também nesse lugar um número incerto de caçadores, que vagavam pela floresta...espreitando o lobo faminto.
Mas o lobo não era apenas silencioso, ele era muito esperto. Apenas os caçadores de reflexos mais apurados conseguiam vê-lo e tentar mirar na fera selvagem antes que esse sumisse novamente no meio da escura floresta.
Nenhuma bala jamais havia conseguido acertá-lo. Este lobo parecia intocável!

O velho e sábio avô preocupava-se muito com seu netinho Pedro.
Pedro era uma criança arteira, não parava quieto sequer um minuto, a menos que estivesse dormindo.
Até para dormir dava trabalho o garoto, pois lutava contra o sono, e frequentemente dormia com as velas acesas, e um livro de histórias na mão.
Seu avô beijava-lhe a testa e com um rápido sopro, apagava as velas, todas as noites.

É aqui que a história começa.

Certa manhã, Pedro saiu de casa, abriu  o portão e foi em direção à campina.

Um lindo passarinho estava pousado em um galho de uma árvore bem alta, mas ainda ao alcance da vista do garoto. Isso mesmo, aquele passarinho do qual falamos!
"Que bela e tranquila manhã", disse Pedro, com serenidade e alegria.
O passarinho gostava do garoto, sempre cantava sua musiquinha top dez na parada de sucessos da floresta quando via o garoto.

A música do passarinho era um modão bem sertanejo, romântico sim, mas não dava para ficar com o pé parado!É que o passarim veio lá do interiorrrrrr de Goiás!.

Nesse momento, nem bem terminou a cantiga do passarinho, quem veio passando por ali, com seu andar desengonçado?
"quack, quack, quack, quack, quack"

Isso mesmo, crianças!
O pato bobão! Veio todo rebolando, querendo cantar mais alto que o passarinho, com seu ritmo de batucada. Era um pato timbalada!

O pato insolente era da criação do Avô de Pedro, e estava todo felizão por ter encontrado a porteira aberta.

Oooops, Pedrinho! Esqueceu de fechar, foi menino?

Havia um lago bem profundo na campina e o pato tava doido de vontade de dar uma nadada ali. Ao ver o pato, o passarinho deixou o galho e foi voando na direção do pato e do menino, até pousar do lado do pato. E perguntou-lhe:
" que tipo de ave é você, que não consegue voar, e fica andando rebolando desse jeito?"
No que o pato respondeu:
"Que tipo de ave é você..." ( o pato estava mal-humorado já) ..."que não consegue nadar?"
E tendo dito isso, enfiou rápido a cabeça na água num mergulho imenso, para sair lá longe nadando todo empinado, orgulhoso de si mesmo.

O pato nadou, nadou, nadou...de vez em quando dava uma olhada para Pedro e o passarinho, para checar se estavam assistindo ao showzinho, e empinava a cabeça de novo, se achando o pato mais belo do mundo.

Enquanto os dois assistiam a apresentação do pato, Pedro ouviu galhos se movendo num arbusto perto dali, e lembrou-se que seu avô o disse para evitar aquela parte da campina, porque era muito perto da floresta e uma raposa já havia sido morta pelo lobo bem ali perto. "Meu Deus! Lascou! É o lobo!" Pensou Pedro. Sem pensar duas vezes, Pedro gritou com toda a força dos pulmões:
"Cuidadooooooooooooo! É o Lobooooooooo! Fujam, fujam! Loboooooo!"

O avô de Pedro largou tudo que estava fazendo, pegou sua espingarda meio enferrujada e veio acudir o garoto.
Três caçadores que estavam ali perto também surgiram de dentro da mata, com suas espingardas em punho, um olho aberto e outro fechado...procurando onde mirar!

Mas era apenas a gata gulosa...cercando o passarinho para fazer dele seu lanche. Com aquela confusão toda, ela se assustou e saiu correndo, subiu em uma árvore e lá ficou, bem encolhidinha. O passarinho também vou rapidinho para o seu galho habitual para ver o que estava acontecendo.

Quando todos se deram conta de que era apenas uma gata fofinha, os caçadores fecharam a cara e partiram pra dentro da floresta, sem nada dizer.

Mas o avô de Pedro, ah não! Esse queria falar umas poucas e boas para o garoto!
Precisava apenas recuperar o fôlego da corrida, pois ainda estava bufando meio sem ar, e o coração batendo aos pulos.

Tão logo recuperou o fôlego, deu uma bela bronca no garoto.
"Como é que pode menino! Quantas vezes já lhe disse para não brincar perto da floresta, porque há um lobo feroz à solta por aí, pronto para te devorar?"
"Você assim vai acabar matando seu avô do coração! o que eu vou dizer para sua mãe quando ela voltar de viagem se o lobo te devorar?"
"Já para dentro, menino insolente!"

O Menino Pedro nada falou, pois sabia que tinha feito coisa errada, ao desobedecer seu avô, e entrou quietinho em casa.
Mas ele era muito inquieto, e brincar do lado de dentro da porteira já estava sem graça, então no dia seguinte lá estava ele de novo, na beira do lago, jogando pedra na água para ver a pedra quicar. Dessa vez, ele tinha fechado a porteira, de forma que estava só ele mesmo ali. Pelo menos assim ele pensou.

Porque uma pedra arremessada por ele quicou três ou quatro vezes e caiu do outro lado do laguinho, atingindo um arbusto, que estranhamente se mexeu todo . Pedro viu nitidamente um vulto correndo de trás desse arbusto para dentro da floresta, e gritou:


"É o Lobooooooooo! Fujam, fujam! Loboooooo! Eu vi! Eu vi! Ele saiu correndo de trás daquele arbusto!"

Mais uma vez, foi aquela confusão!
O avô de Pedro largou tudo que estava fazendo, pegou sua espingarda meio enferrujada e veio acudir o garoto.
Quatro caçadores saíram de dentro da floresta, com suas espingardas em punho, tudo igual. Mais uma vez, nada de lobo, era a gatinha ainda no encalço do passarinho.

Todos os dias era a mesma história: Pedro ficava entediado de brincar do lado de dentro da porteira e ia ali naquele lugarzinho proibido perto do lago. Pra piorar, além de desobediente, o garoto não tinha medo do lobo. E toda vez, tomava uma bela bronca do avô, mas esse garoto era um verdadeiro moleque sem vergonha, e no dia seguinte, lá estava ele de novo onde não devia!

Até que um dia, andando por ali procurando mais uma pedrinha para jogar no lago, Pedro viu algo que o fez gelar de medo: era o Lobo Cinza, enorme e com garras e dentes afiadíssimos...
Por sorte, Pedro o viu antes que o lobo o visse, e o garoto subiu num árvore o mais rápido que pôde e de lá de cima, gritou

"É o Lobooooooooo! Socorro, me ajudem! O Loboooooo!"

Mas ninguém dava mais bola para os gritos do garoto. O avô ouviu aquilo e pensou "mas que peste esse garoto! Vai ficar sem sobremesa hoje de novo!"
E continuou cuidando da lavoura de cenouras.
Os caçadores, se havia algum ali perto, não se sabe, porque ninguém apareceu.

E o Pedro ficou em cima dá árvore, gritando sem que ninguém o acudisse, enquanto o lobo o olhava sorrateiramente, apenas esperando que o garoto descesse da árvore para devorá-lo.
Meia hora  daquela tensão se passou,até que o lobo viu o pato andando desengonçado e correu atrás dele.

Comeu o pato de uma bocada só. Engoliu ele inteiro!

Essa era a chance que Pedro precisava para fugir para o aconchego da casa do avô.

Lá chegando, contou toda sua aventura para o avô, que ouvia sem prestar muita atenção, estava mais concentrado na leitura de um livro sobre doenças do tomateiro que  na conversa do garoto.
Quando o garoto terminou, deu-lhe uma bronca, a mesma de sempre, e o mandou para o quarto de castigo, e sem sobremesa.

Pedro ficou perplexo com aquilo. Ele dizia "Mas vovô! É verdade, é verdade! Eu vi o lobo, ele é enorme e cinza e com garras e dentes afiados!"

O avô ouvia e apenas dizia "hurrrum."..."sei..."
"agora vá para o quarto! Chega de artes por hoje!"

Quando o garoto terminou, deu-lhe uma bronca, a mesma de sempre, e o mandou para o quarto de castigo, e sem sobremesa.

Então, enquanto estava de castigo maquinava um plano para pegar o lobo sozinho, e provar a todos que não estava mentindo.

Separou uma corda das que ficavam guardadas no celeiro, alpiste, roldanas, um carrinho de mão e um saco de fertilizante.

No dia seguinte, botou tudo dentro do carrinho de mão e escolheu uma árvore com um galho bem forte e reto.

passou a corda por quatro roldanas, duas presas em galhos diferentes e duas no próprio tronco da árvore. Uma ponta da corda, ele prendeu ao saco de fertilizante, e subiu o saco até um galho lá em cima. A outra ponta, fez um laço e deixou no chão, enquanto colocava o alpiste numa clareira. Feita a armadillha, subiu na árvore, e ficou sentado em um galho, do lado do saco de fertilizante. Com o laço na mão!

Mal havia terminado de preparar sua armadilha, vem o passarinho e pousa perto do montinho de alpiste. Logo vem outro pássaro maior, para aproveitar o banquete de graça, e mais outro e mais outro.

Com aquela movimentação, o lobo se aproxima, se preparando para ter um banquete ele também!
Ele vem, furtivamente, silenciosamente...se aproximando dos pássaros quando se dá conta que está preso!

Pedro espertamente o laçou de cima da árvore, puxa a corda para apertar o laço no rabo do lobo, abraça o saco de fertilizante e pula da árvore.
A corda corre nas roldanas e ergue o lobo, que fica pendurado de cabeça para baixo.

Foi então que chegaram os caçadores, que estavam seguindo o rastro do lobo. Suas espingardas brilhavam à luz do sol, prontas para atirar. Mas a coisa estava sobre controle.
O lobo uivava ferozmente, mas coitado, não tinha como fazer mal a ninguém , pois quanto mais se mexia mais preso na corda ficava. Por fim, de tanto sentir seu rabo apertado pelo laço, ficou quieto, gemendo baixinho.


Pedro então, largou o saco de fertilizante, e colocou o carrinho de mão por cima, para que o lobo continuasse preso na corda, de cabeça para baixo, indefeso.

Os caçadores deram fim aos dias do lobo feroz com um certeiro golpe de faca, o soltaram da corda e deram início ao desfile da vitória.
Nunca mais nenhum fazendeiro perderia suas vacas leiteiras, suas ovelhas de lã, cabras produtoras de queijo ou sequer as galinhas, porque Pedro com sua esperteza havia dado fim aquela ameaça!

Mas o avô do pedro estava preocupado com o neto.

"Pedro, você foi esperto e teve sorte, conseguiu prender o lobo sozinho com sua engenhosidade, mas se algo tivesse dado errado, por mais que você gritasse não teria nenhum socorro.
É preciso ter cautela com o que você diz, é preciso ter certeza das coisas, porque depois que sua palavra perde o valor, ninguém dá atenção nem às suas verdades, todas suas palavras se perdem no vento. Ousadia você tem, mas sem o tempero sábio da prudência, você pode terminar na barriga de um lobo. Nem sempre a sorte nos ajuda, meu neto."

Pedro respondeu
"Está bem vovô. Fiquei triste quando ninguém acreditou em mim, mas agora vejo que é porque dei alarme falso muitas vezes. Agora entendo e vou tomar mais cuidado com o que digo. Obrigado pela paciência comigo vovô. Te amo!"

Conto adaptado sobre a história de Pedro e o Lobo, de Sergei Prokofiev.

Honolável Mestle II

A lição do Mestre ao aprendiz

Mestre - Pequeno gafanhoto...silencie sua mente e busque a resposta...sem rejeitar nenhuma possibilidade

Aprendiz - Sim,mestre! manter a mente atenta, os olhos abertos...o coração sem travas..

Mestre - SILÊNCIO, insolente! estou falando ainda...parei para respirar porque sou um pobre velho....

Aprendiz- ...(cala-se...envergonhado)

Mestre - o Buda disse "chiu ku chiu nam pusalai"

(O aprendiz olha atento.)

O mestre sorri com o canto da boca.

(O aprendiz espera atentamente)

O mestre com aquela cara de gaiato ainda.

O aprendiz - o que o Buda quis dizer, mestre?

Mestre - Pequeno gafanhoto.... Você deverá buscar a resposta por si mesmo.
A resposta não é mais importante que o aprendizado que a busca traz.
Não se esqueça nunca, aprendiz: "chiu ku chiu nam pusalai"

:-/

Moral da história: o que é importante mesmo pra sua vida, não pode ser ensinado. Você vai ter que aprender por si próprio.

Moral da história 2: O mestre apenas é um aprendiz que ficou velho. Ôôô vontade de dar uma bicuda nesse enrolão...

Virar o Copo



As vezes ficamos cheios de sentimentos ruins
raiva, tristeza, decepção, inveja, culpa, arrependimento
desânimo, desespero, sensação de perda
ou uma mistura muito amarga
de um monte de coisas que nos deixam nos sentindo mal conosco

Mas acontece que ficar remoendo pensamentos e sentimentos ruins
agarrados a própria dor
além de não resolver NADA só prolonga a dor
ficar focando nas coisas ruins deixa a nossa visão nublada
e nos impede de reparar nas coisas boas que temos em nossa vida

Então é preciso desenvolver a habilidade de virar o copo

A gente tem que pegar os sentimentos ruins que estão dentro da gente...
e virar o copo!
Jogar tudo pela janela e deixar a vida nos encher de outros sentimentos.
Esvaziar a mente, a alma, o coração
Abrir a percepção...para o que vem por aí...para o que nos cerca

Nunca diga "não consigo"!
O que é preciso para virar o copo já está dentro de todos nós
Mente forte, coração aberto para beber a vida nos dão impulso para
desenvolver essa habilidade

Vale a pena tentar, pois quem tem habilidade para virar o copo
Sabe aliar força e sensibilidade

Honolável Mestle


No alto de uma montanha, dois aprendizes esperam o mestre para as lições do dia.

O aprendiz 1 é voluntarioso, quer tentar fazer tudo. É humilde, mas inquieto.
O aprendiz 2 é sereno, esforçado, atencioso, mas sem muita iniciativa.

Não esperam muito, pois logo o mestre sai de trás de uns arbustos com seu cantil cheio de água.
- Saúdo a sabedoria e a bondade em vocês, meus amados aprendizes!

Aprendiz 1 - Mestre, desculpe nosso atraso, estava aguardando meu companheiro terminar suas tarefas do dia.
Aprendiz 2 - Mestre, nem todos conseguem terminar suas tarefas tão rapidamente como meu companheiro! Tenho muito cuidado para que nada saia errado ou mal-feito.


Mestre - Aprendiz1, aprendiz 2, vejo que vocês dois realizam suas tarefas diárias com o mesmo empenho, e os resultados são os melhores possíveis. Agradeço-os de coração pela dedicação.
Vocês agem de formas diferentes, mas obtém os mesmos resultados. Aprendiz 1 é apressado, quer ver tudo feito tão rápido quanto possível, para ter tempo para viver momentos felizes, poder se sentir digno da felicidade de quem já cumpriu suas tarefas. Aprendiz 2 faz suas tarefas com cuidado, leva mais tempo que seria necessário às vezes por ter receio de fazer mal-feito, mas se relaxasse e não exigisse demais de si mesmo tudo seria mais fácil. De formas diferentes, ambos se cobram mais do que deveriam.

Mas ambos precisam aprender que se mantiverem abertos para novas possibilidades, podem encontrar alegrias em lugares onde não imaginavam.
Questionem suas certezas, aceitem um certo grau de incertezas na vida, saibam que os erros são inevitáveis, e que escorregões servem para que aprendam a ter mais equilíbrio, a saber evitar a queda quando o pé perde seu apoio, buscando outras maneiras de se manter seguro. Não deêm espaço para a culpa por ter caído, aprendam a reconhecer onde há lodo na superfície das pedras para não escorregarem mais, e aprendam com as quedas, pois alguns dias...em algumas partes da caminhada de vocês na vida, não haverá sequer um pedaço de solo que não esteja coberto de lodo. Nestes lugares, o aprendizado das quedas os ajudará a caminhar, mesmo escorregando, e superar aquele trecho difícil.

Este dia, vocês sentirão-se felizes por ter caído antes!
As pequenas quedas que tiveram, os fizeram ganhar agilidade e destreza para evitar quedas mais feias, e os permitiram andar onde outros jamais tentariam.

Autor: Bruno Lonx

imagem: Reservoir Monks por The Bullfrog -  DeviantArt

O Tempo do Amor


O amor tem uma consciência toda própria do tempo.


Mistura passado e futuro, realidade e sonho, a objetividade do fazer com o devaneio do sentir sem arreio e sem rédeas.


O amor dá um sabor todo especial ao agora quando o que se ama está presente.




Bruno Lonx

Sobre Sonhar

Sonhar é um exercício onde o pensamento esquece dos nãos e simplesmente vai...

É deixar para trás o porto seguro das categorias "pode/não pode" e  "dá/não dá" e deixar-se ir nas possibilidades, sem a âncora do que precisa fazer sentido. Navegar distraída e ludicamente.

Assim, sonhar pode ser fazer planos, e não apenas tentar debilmente suprir uma falta que o devaneio não é capaz de preencher. Apenas depende do que você faz depois do sonho!



Se você sonha e toma as atitudes que precisa tomar para que o sonho se realize...então sonhar é planejar, é ouvir a si mesmo. 

Bruno Lonx