domingo, 20 de novembro de 2011

Pedro e o Lobo - contado por Bruno Lonx


Era uma vez, um menino chamado Pedro. Ele vivia com seu avô em uma casa com jardim, cercada por um muro de pedra.
Do outro lado do muro, ficava uma campina com um lago e uma árvore bem alta. Depois da campina, havia uma floresta cerrada e escura.
Ora, esta é a história de Pedro e o Lobo, então havia mais coisas nesse lugar que apenas a casa onde Pedro morava com seu sábio avôzinho.
Havia um passarinho leve e delicado, com penas muito lustrosas e muito ágil.
Havia um pato bobo, com um bico largo e comprido e patas gigantes. Andava bem desengonçado fora da água, mas na água era ligeiro e desinibido.
Havia também uma gata de pêlo castanho, bem fofinho. Ela era gulosa e vaidosa que só ela.
Mas nem tudo era bom e belo nesse lugar, pois havia um lobo grande e cinza, com garras e dentes afiados.
Ele era silencioso no seu andar, e sempre! Sempre estava faminto!
Esse lobo causava muitos prejuízos para os fazendeiros daquela região, pois comia de tudo:
Ovelhas, carneiros, galinhas e até vacas de leite esse voraz lobo devorava!
Por isso, havia também nesse lugar um número incerto de caçadores, que vagavam pela floresta...espreitando o lobo faminto.
Mas o lobo não era apenas silencioso, ele era muito esperto. Apenas os caçadores de reflexos mais apurados conseguiam vê-lo e tentar mirar na fera selvagem antes que esse sumisse novamente no meio da escura floresta.
Nenhuma bala jamais havia conseguido acertá-lo. Este lobo parecia intocável!

O velho e sábio avô preocupava-se muito com seu netinho Pedro.
Pedro era uma criança arteira, não parava quieto sequer um minuto, a menos que estivesse dormindo.
Até para dormir dava trabalho o garoto, pois lutava contra o sono, e frequentemente dormia com as velas acesas, e um livro de histórias na mão.
Seu avô beijava-lhe a testa e com um rápido sopro, apagava as velas, todas as noites.

É aqui que a história começa.

Certa manhã, Pedro saiu de casa, abriu  o portão e foi em direção à campina.

Um lindo passarinho estava pousado em um galho de uma árvore bem alta, mas ainda ao alcance da vista do garoto. Isso mesmo, aquele passarinho do qual falamos!
"Que bela e tranquila manhã", disse Pedro, com serenidade e alegria.
O passarinho gostava do garoto, sempre cantava sua musiquinha top dez na parada de sucessos da floresta quando via o garoto.

A música do passarinho era um modão bem sertanejo, romântico sim, mas não dava para ficar com o pé parado!É que o passarim veio lá do interiorrrrrr de Goiás!.

Nesse momento, nem bem terminou a cantiga do passarinho, quem veio passando por ali, com seu andar desengonçado?
"quack, quack, quack, quack, quack"

Isso mesmo, crianças!
O pato bobão! Veio todo rebolando, querendo cantar mais alto que o passarinho, com seu ritmo de batucada. Era um pato timbalada!

O pato insolente era da criação do Avô de Pedro, e estava todo felizão por ter encontrado a porteira aberta.

Oooops, Pedrinho! Esqueceu de fechar, foi menino?

Havia um lago bem profundo na campina e o pato tava doido de vontade de dar uma nadada ali. Ao ver o pato, o passarinho deixou o galho e foi voando na direção do pato e do menino, até pousar do lado do pato. E perguntou-lhe:
" que tipo de ave é você, que não consegue voar, e fica andando rebolando desse jeito?"
No que o pato respondeu:
"Que tipo de ave é você..." ( o pato estava mal-humorado já) ..."que não consegue nadar?"
E tendo dito isso, enfiou rápido a cabeça na água num mergulho imenso, para sair lá longe nadando todo empinado, orgulhoso de si mesmo.

O pato nadou, nadou, nadou...de vez em quando dava uma olhada para Pedro e o passarinho, para checar se estavam assistindo ao showzinho, e empinava a cabeça de novo, se achando o pato mais belo do mundo.

Enquanto os dois assistiam a apresentação do pato, Pedro ouviu galhos se movendo num arbusto perto dali, e lembrou-se que seu avô o disse para evitar aquela parte da campina, porque era muito perto da floresta e uma raposa já havia sido morta pelo lobo bem ali perto. "Meu Deus! Lascou! É o lobo!" Pensou Pedro. Sem pensar duas vezes, Pedro gritou com toda a força dos pulmões:
"Cuidadooooooooooooo! É o Lobooooooooo! Fujam, fujam! Loboooooo!"

O avô de Pedro largou tudo que estava fazendo, pegou sua espingarda meio enferrujada e veio acudir o garoto.
Três caçadores que estavam ali perto também surgiram de dentro da mata, com suas espingardas em punho, um olho aberto e outro fechado...procurando onde mirar!

Mas era apenas a gata gulosa...cercando o passarinho para fazer dele seu lanche. Com aquela confusão toda, ela se assustou e saiu correndo, subiu em uma árvore e lá ficou, bem encolhidinha. O passarinho também vou rapidinho para o seu galho habitual para ver o que estava acontecendo.

Quando todos se deram conta de que era apenas uma gata fofinha, os caçadores fecharam a cara e partiram pra dentro da floresta, sem nada dizer.

Mas o avô de Pedro, ah não! Esse queria falar umas poucas e boas para o garoto!
Precisava apenas recuperar o fôlego da corrida, pois ainda estava bufando meio sem ar, e o coração batendo aos pulos.

Tão logo recuperou o fôlego, deu uma bela bronca no garoto.
"Como é que pode menino! Quantas vezes já lhe disse para não brincar perto da floresta, porque há um lobo feroz à solta por aí, pronto para te devorar?"
"Você assim vai acabar matando seu avô do coração! o que eu vou dizer para sua mãe quando ela voltar de viagem se o lobo te devorar?"
"Já para dentro, menino insolente!"

O Menino Pedro nada falou, pois sabia que tinha feito coisa errada, ao desobedecer seu avô, e entrou quietinho em casa.
Mas ele era muito inquieto, e brincar do lado de dentro da porteira já estava sem graça, então no dia seguinte lá estava ele de novo, na beira do lago, jogando pedra na água para ver a pedra quicar. Dessa vez, ele tinha fechado a porteira, de forma que estava só ele mesmo ali. Pelo menos assim ele pensou.

Porque uma pedra arremessada por ele quicou três ou quatro vezes e caiu do outro lado do laguinho, atingindo um arbusto, que estranhamente se mexeu todo . Pedro viu nitidamente um vulto correndo de trás desse arbusto para dentro da floresta, e gritou:


"É o Lobooooooooo! Fujam, fujam! Loboooooo! Eu vi! Eu vi! Ele saiu correndo de trás daquele arbusto!"

Mais uma vez, foi aquela confusão!
O avô de Pedro largou tudo que estava fazendo, pegou sua espingarda meio enferrujada e veio acudir o garoto.
Quatro caçadores saíram de dentro da floresta, com suas espingardas em punho, tudo igual. Mais uma vez, nada de lobo, era a gatinha ainda no encalço do passarinho.

Todos os dias era a mesma história: Pedro ficava entediado de brincar do lado de dentro da porteira e ia ali naquele lugarzinho proibido perto do lago. Pra piorar, além de desobediente, o garoto não tinha medo do lobo. E toda vez, tomava uma bela bronca do avô, mas esse garoto era um verdadeiro moleque sem vergonha, e no dia seguinte, lá estava ele de novo onde não devia!

Até que um dia, andando por ali procurando mais uma pedrinha para jogar no lago, Pedro viu algo que o fez gelar de medo: era o Lobo Cinza, enorme e com garras e dentes afiadíssimos...
Por sorte, Pedro o viu antes que o lobo o visse, e o garoto subiu num árvore o mais rápido que pôde e de lá de cima, gritou

"É o Lobooooooooo! Socorro, me ajudem! O Loboooooo!"

Mas ninguém dava mais bola para os gritos do garoto. O avô ouviu aquilo e pensou "mas que peste esse garoto! Vai ficar sem sobremesa hoje de novo!"
E continuou cuidando da lavoura de cenouras.
Os caçadores, se havia algum ali perto, não se sabe, porque ninguém apareceu.

E o Pedro ficou em cima dá árvore, gritando sem que ninguém o acudisse, enquanto o lobo o olhava sorrateiramente, apenas esperando que o garoto descesse da árvore para devorá-lo.
Meia hora  daquela tensão se passou,até que o lobo viu o pato andando desengonçado e correu atrás dele.

Comeu o pato de uma bocada só. Engoliu ele inteiro!

Essa era a chance que Pedro precisava para fugir para o aconchego da casa do avô.

Lá chegando, contou toda sua aventura para o avô, que ouvia sem prestar muita atenção, estava mais concentrado na leitura de um livro sobre doenças do tomateiro que  na conversa do garoto.
Quando o garoto terminou, deu-lhe uma bronca, a mesma de sempre, e o mandou para o quarto de castigo, e sem sobremesa.

Pedro ficou perplexo com aquilo. Ele dizia "Mas vovô! É verdade, é verdade! Eu vi o lobo, ele é enorme e cinza e com garras e dentes afiados!"

O avô ouvia e apenas dizia "hurrrum."..."sei..."
"agora vá para o quarto! Chega de artes por hoje!"

Quando o garoto terminou, deu-lhe uma bronca, a mesma de sempre, e o mandou para o quarto de castigo, e sem sobremesa.

Então, enquanto estava de castigo maquinava um plano para pegar o lobo sozinho, e provar a todos que não estava mentindo.

Separou uma corda das que ficavam guardadas no celeiro, alpiste, roldanas, um carrinho de mão e um saco de fertilizante.

No dia seguinte, botou tudo dentro do carrinho de mão e escolheu uma árvore com um galho bem forte e reto.

passou a corda por quatro roldanas, duas presas em galhos diferentes e duas no próprio tronco da árvore. Uma ponta da corda, ele prendeu ao saco de fertilizante, e subiu o saco até um galho lá em cima. A outra ponta, fez um laço e deixou no chão, enquanto colocava o alpiste numa clareira. Feita a armadillha, subiu na árvore, e ficou sentado em um galho, do lado do saco de fertilizante. Com o laço na mão!

Mal havia terminado de preparar sua armadilha, vem o passarinho e pousa perto do montinho de alpiste. Logo vem outro pássaro maior, para aproveitar o banquete de graça, e mais outro e mais outro.

Com aquela movimentação, o lobo se aproxima, se preparando para ter um banquete ele também!
Ele vem, furtivamente, silenciosamente...se aproximando dos pássaros quando se dá conta que está preso!

Pedro espertamente o laçou de cima da árvore, puxa a corda para apertar o laço no rabo do lobo, abraça o saco de fertilizante e pula da árvore.
A corda corre nas roldanas e ergue o lobo, que fica pendurado de cabeça para baixo.

Foi então que chegaram os caçadores, que estavam seguindo o rastro do lobo. Suas espingardas brilhavam à luz do sol, prontas para atirar. Mas a coisa estava sobre controle.
O lobo uivava ferozmente, mas coitado, não tinha como fazer mal a ninguém , pois quanto mais se mexia mais preso na corda ficava. Por fim, de tanto sentir seu rabo apertado pelo laço, ficou quieto, gemendo baixinho.


Pedro então, largou o saco de fertilizante, e colocou o carrinho de mão por cima, para que o lobo continuasse preso na corda, de cabeça para baixo, indefeso.

Os caçadores deram fim aos dias do lobo feroz com um certeiro golpe de faca, o soltaram da corda e deram início ao desfile da vitória.
Nunca mais nenhum fazendeiro perderia suas vacas leiteiras, suas ovelhas de lã, cabras produtoras de queijo ou sequer as galinhas, porque Pedro com sua esperteza havia dado fim aquela ameaça!

Mas o avô do pedro estava preocupado com o neto.

"Pedro, você foi esperto e teve sorte, conseguiu prender o lobo sozinho com sua engenhosidade, mas se algo tivesse dado errado, por mais que você gritasse não teria nenhum socorro.
É preciso ter cautela com o que você diz, é preciso ter certeza das coisas, porque depois que sua palavra perde o valor, ninguém dá atenção nem às suas verdades, todas suas palavras se perdem no vento. Ousadia você tem, mas sem o tempero sábio da prudência, você pode terminar na barriga de um lobo. Nem sempre a sorte nos ajuda, meu neto."

Pedro respondeu
"Está bem vovô. Fiquei triste quando ninguém acreditou em mim, mas agora vejo que é porque dei alarme falso muitas vezes. Agora entendo e vou tomar mais cuidado com o que digo. Obrigado pela paciência comigo vovô. Te amo!"

Conto adaptado sobre a história de Pedro e o Lobo, de Sergei Prokofiev.

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