quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Guarde suas moedas, aqui elas não valem nada

A Escola de Athenas, afresco pintado por Rafael entre 1509 e 1511)

Muitas pessoas só entendem o mundo pela oposição de conceitos, uma coisa desconhecida é definida pelo que ela não é, pelo menos inicialmente, até que se encontre um rótulo que a pessoa consiga grudar na tal coisa.
 

Nessa linha de conceituação, uma coisa é quente ou fria, com algumas polêmicas principalmente no que se refere à temperatura ambiente, rs. Numa manhã de 18 graus, para mim está fresco, para outra pessoa está "congelante". Outra forma de ver é que o quente e o frio são pontos em uma escala de quantidade de energia térmica e portanto o quente e o frio não são opostos, e as coisas são aquilo que são (água, ar, uma caneca de café com leite) carregados de quantidades diferentes de calor.

E se empregarmos essa forma de definir outras qualidades de forma escalar ao invés do conjunto de conceitos opostos que usamos para por cada coisa em uma prateleira conceitual? Se amor, vida , movimento, força, ordem e caos  forem cada um uma faixa de vibração, uma energia que carrega todas as coisas em maior ou menor quantidade? 

Há de certo outro tipo de energia que não é meramente escalar, mas também vetorial. Há pessoas que trazem alegria e leveza para o ambiente onde entram, seu alto-astral torna os sorrisos de todos mais fáceis e frequentes, a energia dessas pessoas influencia os outros ao seu redor. Por outro lado, uma pessoa enraivecida, que fala rispidamente, e tem aquela contrariedade amordaçada no olhar também contamina os outros ao seu redor, que ficam de cara fechada, com pouca paciência, e basta um pequeno detalhe para uma discussão se iniciar. São energias que apontam em direções completamente diferentes. Para não se deixar afetar por essa onda negativa, uma pessoa precisa estar conectada com sua própria energia positiva, e essa energia tem que ser forte para não permitir que nos contaminemos pela impaciência suspensa no ar.

A interação entre as pessoas é mais do que apenas ação e reação, é uma via de mão dupla, a outra pessoa nos influencia e nos influenciamos aquela pessoa. Uma pessoa forte tem presença de espírito para escolher que influências aceitar ou quando usar sua energia para remar contra a onda que a outra pessoa emite.

Entender o mundo através de oposições empobrece a visão de mundo, as pessoas percebem menos, e entendem de forma enviesada e não são capazes de atingir novos conceitos.


Há conceitos que não cabem nas palavras que existem, mas temos uma inteligência que vem antes do intelecto, que transcende o conjunto de conteúdos culturais do meio onde crescemos, desde os primeiros passos e palavras balbuciadas. Esta inteligência permite intuir os significados que não podem ser explicados ainda, e nos permite duvidar das definições forçadas e saber que há algo mais a explicar.

A humanidade vai evoluir nos próximos séculos, essa inteligência interior se desenvolverá, mas não serão todos os humanos que acompanharão essa tendência. Sócrates batia altos papos com Platão e quem mais chegasse para uma conversa altamente viajante lá pelos idos de 480 Antes de Cristo, numa época onde não havia as formas de disseminação do conhecimento como há hoje. E ainda assim, vemos a população na média mais ignorante do que há 30 anos atrás. A linguagem, interpretação de textos, capacidade de concentração, domínio de ferramentas de entendimento do mundo no geral não evoluiu para toda a população mundial, mas pequenos círculos de pessoas, de forma espontânea e caótica, têm garantido  a evolução do pensamento humano. Apenas não espere ver isso na TV, ok?

 
O que descobriremos quando nos libertarmos das definições antagônicas e aprendermos a pensar que algumas qualidades, conceitos, características, são dimensões, ou são vetores, quando nos libertarmos do modo de pensar que procura onde uma coisa se encaixa em um dos padrões que aprendemos? O que acontecerá quando mais pessoas entenderem que pensar de forma maniqueísta, dualista, colocando as pessoas e conceitos em cantos opostos embota a percepção e o raciocínio e são apenas mais uma forma de nos dividir e desinformar?

O que se descortinará para nossa percepção quando alguém decidir que algo não se explica por nenhuma palavra que exista e criar uma ou algumas palavras e nessa empreitada, desenvolver um conceito? Eu acredito que um dia alguém muito inteligente irá escrever um texto seminal revelando algo que ninguém nunca tinha pensado, mas que depois que foi dito parece óbvio, quase todo mundo entende e se pergunta "como nunca me toquei disso?"

Toda moeda tem dois lados. Um conceito é mais que isso. Expanda sua mente!


Caberá aos mais inteligentes e rebeldes sair do supermercado dos conceitos e entrar em terrenos conceituais inexplorados onde os conceitos como uma moeda de dois lados não tem valor nenhum e a compreensão precisará ser negociada de outras formas, libertas das palavras e formas de pensar ensinadas, mentes que matam aula na escola dos padrões para buscar as verdades desconhecidas. Talvez daqui a 400 anos, talvez num bar em Gotenburgo, com um grupo de amigos bêbados batendo papo sem amarras conceituais, criando o novo como Platão e Sócrates faziam. Quem sabe?