quarta-feira, 27 de março de 2013

Enxergar além da superfície



Aquela melodia lá no fundo do barulho
Aquela flor vista com o canto do olho
Aquele cheiro que te faz lembrar... 
Uau! aquele momento marcante que você viveu!

Sim, as conexões vão se fazendo a todo momento!

Todas essas coisas que a gente capta...
sem a mente consciente se dê conta...
Aquilo que você percebe sem perceber...
Todos os detalhes que a mente rotula como insignificantes naquele momento, como algo que distrai do que você está fazendo, que te tira o foco, toda essa informação é absorvida pelo seu inconsciente.
Essa informação, como as outras, ramifica emoções, pensamentos, vontades, conecta idéias, forma o que vai ser.

Você aprende mais do que você percebe...

Cada pedaço de informação que seu cérebro absorve revira as camadas de lembranças para se assentar, coloca em suspensão uma poeira que vai causar um espirro conceitual, aquele insight que você tem às vezes um bom tempo depois do fato. 

A mente consciente é apenas a ponta do iceberg. O corpo é apenas um, ocupa apenas um lugar no espaço e faz uma coisa de cada vez, mas a mente tem suas várias camadas, estica seus braços em várias direções, investigando, tentando tocar os conhecimentos, sentir sua textura, apalpar seus significados, em um espreguiçar-se, por vezes uma dança ou uma sessão de Yoga mental/emocional que nem sempre é consciente. Sim, somos humanos, não há pensamentos desprovidos de emoção e não há sentimentos que não estejam revestidos de significados, de conceitos, dos resultados do processo de reflexão.

Experimente a cada dia colocar-se em um momento de silêncio, dando um espaço para colocar-se em conexão com tudo que você absorveu. Faça esse exercício de enxergar além da superfície, sinta toda essa informação que você acumulou dentro de si fervilhar e espere os pensamentos e emoções brotarem como água refrescante de fonte cristalina.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Solidariedade X Não-Intervenção



Cada pessoa tem percorre seu próprio caminho único em direção à descoberta de suas verdades, à montagem dos seus próprios quebra-cabeças, onde as peças são unidas com aquilo que elas tem dentro de si. Assim, cabe a quem está de fora da situação respeitar a forma como aquela pessoa se define enquanto vive.Uma prática de respeito pelo livre-arbítrio das pessoas, que tem liberdade para tomar suas decisões e que carregam a responsabilidade de arcar com as consequências dos seus atos  e omissões, e são as principais afetadas pelos resultados de suas ações. Isso é viver tendo o laissez-faire como princípio direcionador.

Há um momento de parar para pensar, há um momento para ler nas entrelinhas, há um momento para manter sua distância, há um momento para continuar com o seu caminho e desviar o olhar da história daquela pessoa que cruzou o seu caminho.

Mas há um outro lado que coloca em várias situações, que é o dilema entre a não-intervenção e a solidariedade.

Há tempos em que somos levados a agir como um rio que segue para o mar, nosso momento de contribuir com o que somos para algo maior. Há um momento de ser a água que mata a sede de alguém, há um momento de ser aquele que lembra o que aquela pessoa esqueceu, há um momento de ser aquela pessoa que revela o que o olhar do outro não viu, e há sim o momento de compartilhar o que você sabe

Há o momento de assumir o risco de errar com a intenção de ajudar, assumir a responsabilidade daquela intervenção no caminho de alguém que não te pediu nenhuma ação. Risco que decorre da nossa visão parcial, não se pode esquecer que a gente não sabe a bagagem que o outro carrega, o que o levou a estar naquele lugar naquele momento. Há momentos de deixar o outro apenas ser, de respeitar o tempo de cada um. Quando há dentro de um ovo uma ave, e com a intenção de ajudar, quebramos a casca antes do tempo, condenamos este pequeno ser ao fracasso, ou a um início no qual a debilidade daquele ser faz com que cada pequeno passo seja um desafio sofrido.

Mas por outro lado, se apenas o pássaro que sentisse que tinha o melhor canto da floresta cantasse, teríamos florestas silenciosas. Para que se aperfeiçoe o que quer que seja, é preciso começar algum dia, é necessário  praticar as habilidades, desenvolvê-las, descobrir os potenciais dormentes.

Sistematicamente se omitir nos encontros de nossa vida com outras, engessando-se em uma postura de isolamento do que acontece com os outros é descartar uma série de lições importantes para a formação de uma pessoa completa.

 Faz parte do aprendizado o erro e as lições que o erro traz consigo.

É preciso ousadia para assumir erros que não dizem respeito apenas à nossa própria vida, mas quem não assume o risco de que o próprio fracasso seja multiplicado pelo peso da culpa e do arrependimento não alcança aquela altitude onde uma pessoa se torna instrumento do universo, uma parte da engrenagem da vida que dá presentes para alguém. E a vida dá vários presentes, receber estes presentes e não procurar retribuir de volta doando algo de si para a vida vai contra a natureza do ser humano, é uma fonte de desequilíbrio no jogo de forças positivo-negativo. É se omitir naquela chance que nos é dada de dar uma mãozinha, aquele impulso que mantém a corrente do bem tocando as pessoas e ramificando seus efeitos.

Não podemos entalhar em pedra uma atitude perene, uma forma de lidar com os fatos para todo o sempre, há que se reconhecer que não há verdades absolutas, reavaliando a cada situação em que direção seguiremos no dilema não-intervenção/solidariedade. Se trata de olhar com a mesma atenção cada caminho dessa bifurcação antes de decidir por qual direção seguir.

sábado, 23 de março de 2013

A Criança Que Sobreviveu



 Nós seres humanos nascemos bebêzinhos com pouquíssima capacidade cognitiva e vamos de acordo com o desenvolvimento neurológico e psicológico formando tudo que nos define como pessoa. A criança vai crescendo, passa por várias fases, bem reconhecidas e estudadas, algo que aqueles que conviveram com mais de uma criança enquanto esta crescia conhecem bem, pois viram acontecer com pessoas tão próximas. Aquilo que forma um ser humano vai se acumulando,  nos tornamos mais complexos e intelectualmente sofisticados à medida que nosso inventário de idéias, conceitos, habilidades, percepções aumenta com as experiências, aprendizados, descobertas.

Mas é um erro achar que o adulto é a borboleta que deixou o casulo da infância para trás. O grau de amadurecimento de uma pessoa não é linear, as pessoas podem se desenvolver nos vários  campos de habilidades, conhecimentos, percepções em momentos diferentes, de acordo com as oportunidades que surgem para isso, de acordo com os desafios que lhe são propostos pela vida, de acordo com o nível de interesse e de capacidade de germinar as sementes de crescimento pessoal que surgem em sua vida. Assim, a mutação de criança para adulto não é algo que possa ser marcado por um rito de passagem, algo que existiu em tantas culturas. Por vezes, nos surpreendemos vendo crianças de 8, 9 anos se dedicando a reflexões sobre a vida, sobre as pessoas com um nível de sabedoria que muitos adultos não tem, ocupados que estão com o atendimento das demandas de sua vida (compromissos profissionais, acadêmicos, o atendimento da expectativa de pessoas próximas).  Viver apenas em função do que uma pessoa tem que fazer pode transformar as pessoas em algo muito próximo das formigas que carregam folhas em uma pracinha.

Essas formigas fazem seu serviço sem distração, totalmente ignorantes de que além daquela pracinha há todo um mundo, com montanhas com milhares de quilômetros de altitude, praias, fossas abissais nas profundezas dos oceanos, e até que um carrinho-robô anda na superfície de Marte. Há pessoas que vivem assim, uma vida de formiga: acordam, tomam banho, se alimentam em minutos, entram nos seus carros e se conduzem nos engarrafamentos, trabalham o dia inteiro e depois vêem TV antes de dormir, totalmente ignorantes das várias dimensões espirituais e intelectuais que encerram dentro de si como sementes do que pode vir a ser. Há pessoas que perdem a capacidade de brincar de viver, e passam a buscar fontes externas de algo que preencha sua necessidade de encantamento, de preencher as horas vagas disponíveis para diversão com algo que não dê muito trabalho, ou de acumular coisas que aumentem o seu grau de contentamento com a própria vida.

"Quem tem bastante no seu interior, pouco precisa de fora" Johann Goethe

Um adulto é mais completo quando a criança que ele um dia foi sobreviveu às tantas experiências que ele viveu. Experiências que trazem um patrimônio de coisas boas, como já saber o que fazer em uma situação igual ou parecida a uma vivida no passado, agilidade para identificar o que está acontecendo e a atitude mais adequada para aquela situação, inclusive quais situações evitar. Mas a experiência pode também deixar um patrimônio de coisas que nos amarram, como medos, traumas, ressalvas, noções pré-definidas que colocam muito apressadamente coisas novas no mesmo saco de outras que já passaram.

Se trata de saber ser adulto, aprendiz da vida em constante busca de crescimento e evolução mas sem se desfazer da criança que foi. Há tantas coisas na nossa criança interior que fazem bem ao nosso crescimento!


A leveza de não carregar preconceitos, e aqueles pré-conceitos de reconhecer o todo pelas partes, de classificar as pessoas por sinais que percebidos, fazem com que coloquemos aquelas pessoas em determinadas gavetas, devidamente rotuladas. As crianças não estão contaminadas com os não que muitas vezes nos impomos. Uma criança aceita e interage com o sorriso de alguém que sorri para ela sem julgar a pessoa, sem a tentativa de enquadrá-la em uma classificação que determinará suas reações.

A espontaneidade com que elas se envolvem nas oportunidades que surgem nas suas vidas, aquela coisa de estarem sempre abertas para as brincadeiras, onde se aprende brincando.

Aquela imensa e incansável sede de aprender, de descobrir como se faz, os vários porquês que fazem com aquilo seja daquele jeito e não de outro, de querer saber o nome de tudo. A experiência de aprendizagem da criança é uma atitude contemplativa, de esponja que procura absorver o máximo sem julgamento, sem o ruído do "isso eu já sei", que pode acabar distorcendo a percepção das coisas.

O adulto completo é aquela pessoa na qual a criança sobreviveu à vida vivida e está de braços abertos para a vida por vir, para quem o futuro é uma brincadeira nova. O adulto que sabe que não é a seriedade que o separa de uma criança, que vive-se por inteiro, adulto e criança, é capaz de amadurecer de formas que aquele que enterrou sua criança interior simplesmente escolheu ignorar.

terça-feira, 19 de março de 2013

3 DEDINHOS DE PROSA SOBRE RELACIONAMENTOS



SABER REDESCOBRIR O OUTRO

Há pessoas que após um longo tempo de relacionamento acreditam que conhecem bem o outro, e criam definições fixas do que aquela pessoa é, como ela age, o que ela gosta.
É preciso sensibilidade para a cada dia, olhar para aquela pessoa com atenção, pois nós mesmos não temos esse caráter de imutabilidade que tendemos a ver como característica do outro. 
Nesse sentido, é mesmo um exercício interessante a cada dia você olhar para si mesmo e identificar o que há de impermanente. Conscientes de que nossa personalidade, ainda que construída em bases sólidas, está sempre em construção, podemos ver o outro com um olhar mais atento, capaz de notar mudanças milimétricas  na posição que aquela pessoa se assenta no mundo, e questionar rótulos que acabamos colocando naquela pessoa com a convivência.

Nós somos mais do que achamos que somos, há ações nossas que contrariam aquilo que falamos ou pensamos, há tendências que se manifestam na gente sem que tenhamos delas tomado conhecimento, sem que tenhamos delas nos apercebido.

CUIDADO COM O SEU NÍVEL DE INVESTIMENTO

Não se pode superfaturar um relacionamento, atribuindo-lhe a responsabilidade de fornecer algo um gênero de primeira necessidade em sua vida. As interações mais significativas com as pessoas mais queridas em nossa vida são árvores que produzem frutos, flores e sementes, mas cada um tem responsabilidade apenas sobre si mesmo, e deve andar com seus próprios pés o caminho que conduz ao crescimento, à felicidade, a inteireza do ser. 

Assim, é preciso encarar cada relacionamento importante em nossas vidas como aquilo que ele é: uma experiência que te permite desenvolver seus valores pessoais, e que te permite contribuir com a caminhada de outra pessoa, em uma via de mão dupla entre as existências de duas pessoas.  

Não podemos esperar que outro alguém faça o serviço por nós quando se trata de buscar aquilo que te faz se sentir mais completo como pessoa. Cada pessoa é um universo em si mesma.

VOCÊ É RESPONSÁVEL POR SUA VIDA
Achar que alguém te fará feliz, ou que você tem o poder de fazer alguém feliz, é um pensamento vão que pode ser fonte de insatisfação. Cada pessoa é responsável por construir aquilo que trará sua felicidade, sua paz, o prazer de viver.

No entanto, coisas boas também são contagiosas, e bons sentimentos compartilhados com pessoas próximas se multiplicam, se ramificam, e esta é umas das coisas mais bonitas dos relacionamentos.

segunda-feira, 18 de março de 2013

O Tempo que a vida acontece


Os relógios marcam sempre o mesmo tempo, mas o tempo que realmente importa é o tempo marcado pelas batidas do coração. 
Há famas que acreditam piamente na concretude do tempo milimetricamente medida em relógios atômicos, outros cronópios tem a lucidez de entender que esse tempo rigidamente marcado é um abstração, e que o tempo verdadeiro é aquele no qual os eventos que calam sentidos profundos na alma acontecem, tempo que dança variados ritmos.

Os momentos que marcam uma vida, aqueles que ressoam longa e profundamente nas almas, todos eles acontecem dentro desse tempo fantástico, onírico, lado B do tempo abstrato que você vê no seu relógio, no seu calendário.


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Os Cronópios são pessoas alegres, sonhadoras, criativas, sensíveis, capazes de se encantar com coisas pequenas e triviais, naturalmente capazes de  viver poeticamente o mundo. 



"A palavra Cronópio  se compõe da justaposição de dois vocábulos gregos: chrónos (tempo) e ópion** (a substância da famosa papoula, capaz de deixar a pessoa em estado de euforia seguido de um sono onírico). Assim, penso que não ficaria mal se definíssemos os cronópios como seres entorpecidos pelo sentimento do tempo."* 

* Essa definição é parte de um maravilhoso texto que você lê aqui 




Já os famas  são uma alegoria das pessoas que gostam de um mundo muito ordenado, sempre olham no relógio pra tudo, são organizadas, rígidas, com uma tendência sempre presente a enquadrar o mundo em padrões, que empreendem esforço em preparar o terreno por onde planejam andar. Ainda que bem intencionados, tem o costume de julgar as pessoas com a mesma forma rígida com que planejam seus passos.

No livro ‘Historias de Cronopios y de Famas’ (1962), o escritor argentino Julio Cortazar cria uma alegoria de dois lados da mesma moeda que habitam em cada um de nós, que somos a cada dia uma mistura de fama e cronópio, e nos chama a atenção para um mundo fantástico  que se esconde sob o tecido dos dias, imerso nos esquemas estruturados, lógicos, racionais que criamos para nos relacionar comodamente com as coisas rotineiras do nosso dia-a-dia. 


quinta-feira, 14 de março de 2013

SELO PROCEL DE ENERGIA PSÍQUICA

Se as pessoas viessem com um selo que identificasse se elas são difíceis de lidar, o quanto de energia psíquica que precisamos gastar para tratar com elas, evitaríamos alguns dissabores, e preservaríamos nossa paciência, mas por outro lado...

Seria muito pernóstico acreditar que as pessoas não podem mudar, evoluir e ignorar que elas tem seus bons e maus momentos e que não somos necessariamente sempre da mesma forma. Somos humanos, mutáveis e transcendemos os rótulos.

domingo, 10 de março de 2013

LIBERDADE DE AGIR

Um ato só é livre enquanto está se decidindo se o fazemos ou não. Depois de feito, ficamos responsáveis pelas suas consequências, previstas e imprevistas. Esta responsabilidade não se resume à nossa própria vida, pois entremeados no tecido da vida como estamos, nossos atos afetam outras pessoas.

"Entre o sim e o não, a fronteira é bem tênue".
Lao Tsé

São os dois lados de uma mesma moeda.

A nossa percepção das coisas e dos fatos, no entanto, deve transcender a pobreza de definir uma coisa por aquilo que ela não é.





MUDANÇA


O processo de transformação se inicia no mundo interior de cada um de nós, na formação de uma nova conformação da consciência, em um trabalho paciente de reflexão e de busca de conhecimento, de si e da vida.
Mas este é apenas o sopro que infla as velas. A transformação se dá na sua postura, suas ações e renúncias, a evolução verdadeira precisa de movimento para acontecer.

É nestes movimentos, que afetam outras vidas e pelas interações com elas são afetados que a transformação se materializa, que escolhas se solidificam, que certezas se assentam. O ser se define não em palavras pensadas ou faladas, mas com o vocabulário sólido dos acontecimentos dos quais fazemos parte.

sexta-feira, 8 de março de 2013


Então, nos caminhos da vida
A gente acaba encontrando
Uma árvore que não se pode esquecer
Como esquecer de algo que

Dá frutos,

Lança sementes,

Tem raízes que se aprofundam pouco a pouco

Pode-se por distração, desleixo ou pressa
deixar de se olhar para essa árvore
mas ela não deixa de existir, crescer,
oferecer sua sombra, seu abrigo
Onde podemos inclusive relaxar e dar uma cochiladinha
A árvore doa seus frutos da mesma forma

Há pessoas que são assim
A partir do momento que as vidas se cruzam
A árvore está plantada


Essa árvore não precisa de uma etiqueta de metal
identificando-a como uma espécie classificada por especialistas

com nome em latim, aceita pela comunidade científica

Ela simplesmente é, existe com suas texturas, cores e cheiros
...naturalmente!


imagem spanishbomb