quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Erros Sem Conserto

Há erros para os quais tem conserto.

Por vezes, os remendos até se mostram como atitudes mais sinceras, mas focadas no que é importante e tem um resultado encantador. Movidos por um impulso de desfazer o estrago produzido por um descuido nosso, uma desatenção, ou no ato de desfazer um mal-entendido, acabamos por manifestar algo belo que encanta aquela pessoa com quem erramos, pois faz com ela se dê conta de algo precioso que sentimos e que por várias razões bestas não demonstramos.

As   palavras podem ter mais de um sentido, e também  nossos gestos podem ser mal interpretados, por vezes o que dizemos acaba sendo entendido como algo que não é verdade, e um gesto nosso enquanto estamos distraídos ou (concentrados em algo complexo) pode ser interpretado como manifestação de desprezo.

Reconhecer o erro e desfazê-lo mostra qualidades nobres que podem não ficar tão evidenciadas como nos gestos de quem acerta na primeira vez, e usa esquemas batidos, palavras feitas, quem repete algo que já deu certo outras vezes.

Mas há um tipo de erro para o qual não tem conserto, que é o desperdício.

Desperdiçar tempo,dinheiro, oportunidades e outros recursos limitados é um erro sem conserto. É preciso ter atenção para não cometer este tipo de erro antes de ele acontecer.

Ouvindo a Melodia de Cada Um

As conversas iniciais com uma pessoa, especialmente as tímidas, são como as introduções de certas músicas. Leva um tempinho até que as melodias que definem aquela pessoa se revelem.

Então, à medida que a gente vai conhecendo aquela pessoa, o encantamento vai crescendo.



terça-feira, 7 de agosto de 2012

Os Nossos Eus


Várias almas habitam o mesmo corpo. Esses Eus de que somos feitos, que sem perceber equilibramos numa sucessão de agoras, não precisam sempre ser direcionados pelas circunstâncias.
Equilibramos nossas várias almas quase como um malabarista com seus pratos.

Há dentro de nós um poço. No fundo dele é que estamos, porque o que nele está é o que  nos define, o que nos individualiza, a fonte do que nos enriquece como seres humanos. E a vida exterior, as circunstâncias, a rotina, o costume, todas as coisas que nos conduzem pelos dias levados por elas, não é uma única possibilidade, por mais que disso nos esqueçamos de vez em quando.

Só chegamos a ser uma parte mínima do que poderíamos ser.
A nossa vida é em todo o instante, a cada momento que passa ela acontece, se define, se forma, frutifica e pode seguir uma linha ou se reinventar. Em cada momento desses, precisamos antes de tudo termos consciência do que nos é possível. Se em cada momento não tivéssemos à nossa frente mais que uma só possibilidade, careceria de sentido chamá-la de nossa vida. Seriamos apenas robôs cumprindo tarefas colocadas pelas circunstâncias. Uma reação para cada ação externa sobre nós. Programado, fixo, sempre igual.

Somos uma parte mínima do que podemos ser porque fazemos escolhas. Se vamos para a direita, não chegamos a conhecer o que há no caminho da esquerda, e se vamos para a esquerda, tudo que há na direita permanece desconhecido.

Qualquer que seja o caminho escolhido, mantenha os olhos abertos o espírito sedento por intensidade e não deixe de caminhar nunca.



Sermos guiados pelas circunstâncias é se manter em um jogo de ação/reação ante o que aparece na nossa vida, é se deixar levar igual uma folha seca é levada pelo rio.
 
Aqui, cabe um lembrete: sempre podemos escolher algo que não está no cardápio.
 
Viver fazendo escolhas requer uma atenção maior, uma proatividade maior, e uma constante comunicação com sua voz interior.
 
É não deixar os olhos da mente míopes vendo apenas o que é evidente, o que se apresenta a nossos olhos
mas ver o que poderia ser, o que queremos que seja, o que existe apenas no mundo dos sonhos, e traçar a rota para chegar lá.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O AMOR BOM É O FACINHO




Há tempos atrás li um texto muito bom do ótimo Ivan Martins, sobre as conquistas difíceis e sobre o esforço que fazemos para obter certas recompensas. o texto é este aqui:

Isto me inspirou a escrever uma outra visão, sobre o esforço que decidimos fazer para manter relacionamentos que estão enfrentando problemas e abalados por pontos de atrito. lá vai:

O Amor Bom é Facinho

Cada pessoa é um universo em si mesma. Suas crenças, a sua maneira de sentir e pensar podem até achar pontos de contato com outras pessoas, mas o complexo conjuntos de tudo que forma uma pessoa, e que a faz ter as reações que tem, e as vontades que tem, isso é único de cada pessoa.

Há pessoas que encontramos nessa vida que nos dão a nítida sensação de que nos conhecemos há vários anos, logo nos primeiros dias de convivência, quando ainda estamos conhecendo aquela pessoa. É divertido encontrar pontos de contato entre duas almas e ver que duas pessoas muitas vezes tem as mesmas reações, e que uma sintonia inexplicável mostra sua cara em vários momentos que estamos com aquela pessoa. Estes tipos de pessoas acabam tornando-se nossos melhores amigos.

Há uma frase, repetida à exaustão, que diz que "os opostos se atraem". Isso leva muitas pessoas a sofrerem nos relacionamentos, fazendo-as crer que vale a pena lutar por um amor conturbado. De certo que em todo relacionamento, é preciso saber negociar, ceder em alguns pontos, e trabalhar os pontos de atrito que naturalmente surgem com a convivência de forma respeitosa, com tato e sabendo se colocar no lugar do outro. É preciso saber superar o egoísmo e o egocentrismo e junto com a outra pessoa, encontrar soluções de consenso que sejam saudáveis para o relacionamento, e que façam os dois crescerem, amadurecerem, evoluirem.

Mas ponto de vista que quero defender aqui é bem outro, que parece oposto ao que foi dito no parágrafo anterior, mas que na verdade o complementa.

"Lutar por um amor é bom, mas ter um amor sem precisar lutar por ele é muito melhor"

William Shakespeare

Os relacionamentos que mais nos fazem felizes são os mais fáceis também. A formação de uma conexão entre duas pessoas, é algo natural, sem esforço, e a sintonia vem simplesmente com a convivência, na verdade ela sempre existiu, e os dois apaixonados vão apenas descobrindo-a, com grande prazer. Os pontos de atrito são muito menores do que os que aparecem nos relacionamentos conturbados, na qual os amantes investem um esforço contínuo para ajustar-se um ao outro por um grande amor que sentem um pelo outro.

O amor bom é facinho, e mesmo anos de convivência não desgastam o relacionamento, pois as pequenas microfrustrações de quem anos a fio, opta por ceder em busca de soluções de consenso, que amplifica os pequenas insatisfações, são muito mais raras, e a sensação de ter uma pessoa que sem esforço olha para a mesma direção que você fortalece o vínculo e a sensação de que aquela pessoa é a pessoa certinha pra você.

No entanto, há que se ter cuidado com o nível de exigência na sintonia que queremos ter com uma pessoa, pois esta história de almas gêmeas não existe, isso é uma quimera romântica que deixou muitas pessoas sofrendo. Não há uma pessoa igual à outra, e todos estamos em constante mudança. Nossa personalidade nunca está pronta, há um núcleo que nos faz com que nos sintamos nós mesmos, mas sutis mudanças vão acontecendo ao longo da vida. E há pessoas que conhecemos que mexem tanto com a gente que podemos dizer com segurança que não somos mais os mesmos depois de conhecê-las.

Quando chegamos naqueles momentos de dúvida quanto a manter o relacionamento, e empreender um esforço para que aquilo continue e volte a produzir o encantamento em duas pessoas que um dia já proporcionou, acredito que a principal questão que devemos saber a resposta é se vale a pena lutar por aquele amor, e não é falha de caráter ou preguiça desistir de um relacionamento difícil, simplesmente porque este investimento todo pode nos manter em um relacionamento com uma pessoa que não é a que mais combina com a gente.  

Quando você se depara com um ponto onde pára e reflete sobre o que os dois precisam fazer para reconstruir o relacionamento abalado, antes de mais nada precisa se perguntar se vale a pena empreender aquele esforço. Pode ser que não, e isso não é ser egoísta, é ser sensato.

Muitos desistem dos relacionamentos muito cedo, sem lutar nem um pouquinho pela pessoa que se ama, e isto é errado, imaturo e conduz a relacionamentos superficiais descartáveis, enquanto os grandes amores são aqueles capazes de superar os obstáculos mais difíceis. Nossa habilidade em criar soluções de consenso para situações conflituosas, nossa dedicação ao outro, compreensão, cuidado, altruísmo, vontade de agradar, tudo isso é importante num relacionamento e nos faz crescer como pessoas, mas eu acredito que os melhores relacionamentos são justamente o que exigem menos dessas nossas habilidades de aparar arestas, pois a sintonia é maior que qualquer pequeno estranhamento, embate ou tensão. O amor bom é o facinho.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

NA NOITE DAS INCERTEZAS


Dormi com a fé e acordei com um animal sacrificado em meus braços. Dancei com a dúvida a noite toda e encontrei suas filhas verdade, experiência e consciência pela manhã.


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SOBRE O FALSO BOM SENSO A crença com frequência é um conceito que uma pessoa pensou e outras engolem sem mastigar. Muito do que se diz, que parece verdade, não se sustenta quando alguém ousa duvidar e analisar minuciosamente a tal verdade amplamente aceita.

O andarilho que carrega algumas dúvidas percorre caminhos onde encontra verdades.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Vasos Quebrados



Quando os japoneses colam objetos quebrados, eles preenchem as rachaduras com ouro. Eles acreditam que quando algo sofre algum dano, tem uma história, e há conserto, vale a pena repará-lo. Quando alguns vasos se quebram, eles não perdem seu valor. De fato, ao consertá-lo, ele torna um objeto único e especial. E passa a valer mais do que antes!

Assim são as pessoas. Que o ouro que nos conserta, quer seja sabedoria, quer seja mais amor pela vida, quer seja simplesmente o fato de estarmos desenvolvendo nossas qualidades, superando nossas falhas e nos fazendo abandonar hábitos que nos fazem mal nunca nos falte nos momentos em que nos sentirmos como um vaso quebrado.

Da Wikipedia
Kintsugi (金継ぎ?) (Em Japonês, colagem com ouro) é uma arte de consertar peças de porcelana quebrada com uma resina de laquê e ouro em pó.  Kintsugi provavelmente se originou quando o  shogun Ashikaga Yoshimasa mandou uma tigela chinesa  de chá quebrada para restauração na China no século XV. A tigela voltou com horrorosos grampos de metal, o que desagradou o shogun. Então, ordenou que os artesãos japoneses fizessem um trabalho esteticamente mais agradável.
O resultado foi a criação da técnica do Kintsugi.
          

terça-feira, 5 de junho de 2012

"Viver tão somente viver, não me faculto
Pois carrego na algibeira do cavalo que me conduz
A ciência de um lado, e intuição do outro.
Com a ciência escalpelo os ralos cabelos do erro,
descarno-o dos sofismas que o ocultam,
removo as penas do orgulho afim de mostrá-o claramente
àqueles que, iludidos por falsas aparências, julgam ver nele a verdade.

O nome do cavalo é experiência
ela me conduz por caminhos conhecidos
mas de vez em quando, apeio desse cavalo
e ando com minhas próprias pernas
De fato, todos precisam esticar as pernas
de tempos em tempos
pois todo o tempo no lombo desse manso animal
atrofia os músculos e cresce a bunda"

Velho do Rio, matuto do Pantanal


DESPERTAR


Olhe para o dia de hoje
pois ele tem
Mais próximo de você
que qualquer outro
o que torna a vida o que ela é

O deleite do crescimento
A glória da ação
O esplendor da beleza
A magia latente que aflora
quando a poesia deixa o preto e branco do papel
e se mostra nas experiências de vida

O dia de ontem é um apanhado de lembranças
O dia de amanhã é uma visão embaçada
Mas um hoje bem vivido
Quando virar ontem
Terá trazido, com sorte, mais tesouros para o baú das memórias preciosas
e possibilitará que os amanhãs sejam visões de esperança

Então, olhe bem para hoje
olhos atentos, peito aberto e mente desperta
Viva o melhor que você puder o dia de hoje!


sexta-feira, 25 de maio de 2012

 A INÉRCIA

A inércia é um dos vilões que nos rouba a felicidade. Se não rouba, pelo menos atrasa o trem chegar na estação.

Gozar a liberdade usufruindo da liberdade de não fazer nada, ou dar as mãos para a inércia é desperdício de tempo. A Economia pode ser definida como a ciência de administrar recursos limitados para necessidades ilimitadas.

E uma coisa sempre teremos como um recurso limitado: o tempo. Tempo, oportunidades, energia, tudo isso é limitado. Temos que estar atentos ao desperdício.

Com mais movimento e menos inércia, seremos mais felizes, faremos mais pessoas felizes, estaremos mais vivos. Faça, faça, faça.

O acontecimento é propriedade do agora.



Mantenha a inércia sob controle, sem ceder demais a seus encantos e assuma a cadeira de diretor da sua vida.

Todo mundo precisa encontrar no seu caminho pedras, flores e espinhos. Nem só de coisas felizes se faz uma grande pessoa.

Quem pega uma pedra que caiu na sua frente, e com a força do seu braço e da sua mente serena, e esculpe algo útil dessa pedra tem uma vida mais rica do que aquele que não encontra pedras pelo caminho naquele dia.


quarta-feira, 7 de março de 2012

Ser é algo em movimento



Aquilo que cada um sabe fazer de melhor só pode ser revelado por quem o faz. Ninguém sabe ainda o que pode ser, nem o pode saber, enquanto essa pessoa não o demonstrar até para si mesma.
Reciclado do Ralph Waldo Emerson


É preciso saber equilibrar as coisas. Saber equilibrar o concreto, o objetivo, com o intangível, com a sutileza dos sentimentos não-ditos. Saber equilibrar o que faz e o que sente, porque quem sente uma coisa dentro de si e não põe isso em prática, acaba colocando em dúvida, até para si mesmo, a veracidade daquele sentimento.


Ser é algo em movimento, que supera as definições, e a imagem que fazem de nós, supera até mesmo a auto-imagem, pois é nas nossas ações e omissões que verdadeiramente somos.  A cada dia, começa tudo de novo.

Ritmo e colocar no lugar certo



Ritmo
Viver exige força e desprendimento. Porque não dá pra ensaiar e subir no palco outra vez, outro dia, quando estiver bom. O que vale para viver intensamente é a capacidade de improvisar. É esse improviso que esquenta a alma. Um calor que só pode sentir quem está vivo. É essa arte de “Não-saber-como-fazer-mas-fazer” que deixa o coração sair do ritmo.


Colocar-se no lugar certo
 Não olhe para o passado em busca de felicidade ou perca tempo demais sonhando com a felicidade que virá no futuro. É no presente que você está vivendo, ache da forma que der a felicidade hoje, não deixe o tempo te ludibriar, pois o momento de ser feliz é agora.


Tela: Music Inspired - George Pali

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Revirando as Caixinhas



O armário e suas prateleiras, a escrivaninha e suas gavetas, o cofre e seu fundo falso são verdadeiros órgãos da vida psicológica secreta. Sem esses objetos e alguns outros igualmente valorizados, nossa vida íntima não teria um modelo de intimidade.


Gaston Bachelard

Os espaços internos do nosso ser, onde guardamos com esmero lembranças, desejos e pensamentos aos quais temos apego são morada de  "objetos" que tem um significado nada banal para a gente. Coisas banais passam pelos nossos dias, cumprem sua função e caem no esquecimento.

Essas coisas nos alimentam o espírito, deixam a mente em estado de busca.

Uma amiga outro dia se recolheu em seu apartamento revirando caixas que permaneceram fechadas por anos. Aquilo ativou uma série de reminescências em mim. Essa imagem me deixou pensando nos objetos cheios de significado que enterramos no inconsciente, que ficam ali vagueando nas memórias distantes, pensamentos incompletos, mas com uma carga nada casual de emoção, de expectativas que ficam ali,como brinquedos estragados, empoeirados pelo esquecimento aguardando o dia em que lhes colocaremos as peças que faltam e lhes daremos corda para que se movimentem para cumprirem seu papel.

Algumas vezes esses objetos são imprecisos, sua imagem é fugidia, e nos falta tempo para cuidar dessa arqueologia de guardados da nossa intimidade, movidos que somos pelo trem das horas que leva tarefas obrigatórias e distrações exigidas pela vontade, um vagão atrás do outro, numa acelerada jornada de momentos que se sucedem em flashes,e podem acabar somando alguns anos à nossa vida, sem que possamos concluir o conserto de sequer um desses objetos. Por vezes, esses consertos são coisas mágicas, de um ciclo de confusão, recolhimento e o insigth salvador que acontecem em parcos segundos em que descemos do trem das horas e dialogamos com nossa intimidade.

Esses espaços internos guardam muitas coisas, algumas delas promessas, sementes de coisas que temos dormentes e que aguardam para simplesmente ser. Vale a pena reservar alguns de nossos momentos para cuidar desses espaços.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Impulso Criador da Arte



O impulso criador da arte não se encerra naquele que, servo da inspiração, a quem dedica sua transpiração.
Todo aquele que se deixa tocar pela multifacetada alma da coisa artística sente dentro de si alguma coisa que o movimenta.
A coisa artística é doadora de ser, transcende o racionalismo seco, move a emoção num fluxo que pode gerar mais arte, nem que seja um encantamento que nos sintoniza com a arte de viver.


A Noiva - Gustav Klimt 1817/18

Segredos



Quem enterra um segredo enterra-se com ele. O segredo é um túmulo. O ser procura respirar, trancado nesse calabouço de segredos, pelas frestas do devaneio, onde sente o perfume da vida que não tem.

Monstros da Moral



Toda moral que generaliza o particular, que encarna uma "verdade absoluta para todos", um dever tirano e castrador deve ser combatida, pois gera monstros.

A moral é o mastro que suporta as velas do nosso barco e nos permite avanços na construção de nós mesmos. Esse mastro não está ali para prender quem quer que seja, para receber chicotadas "com razão". 

Não faça isso consigo, muito menos com os outros.

Ciclos de Sofrimento



Há características em nós mesmos que nos fazem patinar no crescimento emocional, situações nas quais nos sabotamos ou não conseguimos fazer algo que nossa vontade pedia "por favor! vamos fazer isso?" e situações-problema que nos dão a sensação de estarmos andando em círculos, porque até há uma evolução, mas volta e meia voltamos a um estágio que nos incomoda.


Isto acontece porque ficamos presos ao fogo dos pensamentos-hábito, que é como uma lareira que nos dá um calorzinho de segurança no meio da confusão de não saber qual o próximo passo devemos dar. Acontece também por um certo apego ao que acreditamos ser nossa essência, aquela coisa arrogante e comodista do "eu sou assim! Fazer o quê?". Acreditar que o que somos se resume ao que gostamos e o que não gostamos, ao que achamos certo e o que achamos errado, e o que queremos e o que não queremos é negar tudo o que temos dormente dentro de nós, ignorar a parte de nós que é eterna mudança e se prender a coisas familiares que nos mantém presos a um círculo de sofrimento.


Para se libertar dos ciclos de sofrimento, é preciso se render, se entregar ao impulso criativo da mudança. Ter a consciência de que abandonar coisas familiares não é trair sua essência, é soltar malas pesadas que contém coisas que já foram e manter a mente clara e luminosa, espírito leve e coração aberto para a vida que está acontecendo. É dizer sim às oportunidades, é ouvir o que a mente  percebe nas situações quando silenciamos a mente tagarela que não pára de remoer velhos pensamentos e imagens mentais, quando a mente se despe de julgamentos e rótulos. É se render ao despertar de si mesmo, que contraditoriamente, só emerge quando não temos dó de abandonar as "coisas familiares".


Este abandono, essa rendição, entretanto, não é algo performático, onde movidos por um impulso renovador, um belo dia em que acordamos animados, decidimos não ser mais fracos, não ceder mais aos medos e mudar. Para nos desintoxicarmos de pensamentos-hábitos que nos mantiveram presos a ciclos de sofrimento por anos é preciso um trabalho diário, é preciso manter-se em todos os momentos atento ao que acontece, é aquietar-se e não permitir que as emoções negativas perturbem a superfície do lago da mente, e não deixar que essas marolas nos impeçam de perceber o que se move na profundeza dos acontecimentos.


Imagem: Self Image Obsession - by LucBecks

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Consciência e uma Chícara de Chá


Sobre a consciência


Imagine uma cena: você está com uma chícara de chá entre as mãos, e aquietou-se para tomar o chá. Por alguns segundos, você não pensa em nada, você está totalmente imerso naquela experiência de tomar o chá. Você sente o peso e o tamanho da chícara, sente o cheiro do chá, sente seu calor. Começa a tomar o chá lentamente, atento a seu sabor, seu calor. Apenas um ou dois goles, e sua mente começa a vaguear novamente. Você pensa uma coisa, depois outra, e quando se dá conta, a chícara está vazia e você tem pouca lembrança de como foi tomar aquele chá. A experiência acabou antes de acabar.


Este mesmo tipo  de perda de consciência ocorre quando você precisa ir de um lugar para outro e vai andando.Você mais ou menos escolhe o caminho por onde pisará, mas a mente está vagueando e o corpo está no piloto automático. Um monte de detalhes do caminho e dos objetos e pessoas no meio do caminho passaram completamente despercerbidos a você, textura do piso, grama, asfalto, cimento, onde estava limpo ou sujo, se havia alguém que precisava de ajuda, uma árvore cujas flores desabrocharam naquele mesmo dia, pássaros cantando,uma enorme quantidade de informação contida no caminho por onde você andou e que você não percebeu.


Grande parte de nossas vidas estamos assim - andando no piloto automático - distraídos com essa mente tagarela que não nos deixa perceber verdades ocultas no desenrolar de acontecimentos, na sucessão de agoras que juntos perfazem uma vida. Respondemos aos estímulos, fazemos o que é preciso em cada momento, mas os níveis de consciência variam, pois a mente tagarela está sempre querendo remoer alguma coisa. Cada pessoa percebe apenas uma parte dessas verdades ocultas nas coisas, nos fatos, nas palavras com as quais entramos em contato, e mesmo no discurso não-falado. O que uma pessoa percebe muitas vezes está contaminado com o que ela aprendeu em experiências passadas similares, preconceitos, impressões, e pode ser distorcido por um hábito de forjar uma conclusão rápido demais, que impede à pessoa ver as coisas como elas são, e não como ela acha que são, ou como ela acha que deveriam ser, ou como gostaria que fosse.


Em alguns momentos, podemos nos sentir incompletos, sentindo que falta algo nas nossas experiências de vida. Em parte, deve-se ao fato do nível de consciência com que vivemos aquela experiência.Em parte, em função das expectativas que nossa mente criou, quando categorizou aquela experiência antes de ela acontecer.


Estar consciente em todos os momentos é um exercício que nos coloca em sintonia com nossa própria essência, com a atenção voltada para dentro, e ao mesmo tempo nos permite ver a vida como ela é, com maior riqueza de detalhes. o Exercício de combinar esse olhar para o mundo e essa conexão com a própria essência é  um dos aspectos mais encantadores de se estar vivo.

Imagem: A Cup of Tea - by JunKarlo - deviantArt

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Pequeno Milagre Diário


Um dia você desperta e se dá conta
de que a cada dia você pode experimentar
a maravilha da chama da vida que arde dentro de você

E você deixa-se embebedar pelo sutil arrebatamento
de silenciar a mente resmungona
e deixar a alma dançar
conduzida pela silenciosa música
que toca dentro da gente
quando sentimo-nos VIVOS

Quando damos graças ao milagre
de termos mais um dia a nossa frente
pleno de possibilidades,
com saúde, energia renovada,
mente desperta e coração aberto
 
imagem: Sunrise on a Frost River - AuroraInk - DeviantArt

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A Vida Não Aceita Devolução do Tempo



Falar, pensar, imaginar, até escrever, é meio como rabiscar em uma página em branco, vários caminhos são possíveis, podemos misturar claro e escuro, pintar um quadro pesado, dramático retrato em preto e branco, um rosto pesado feito de vários tons de cinza, ou podemos com a pena leve florescer uma aquarela, delicados matizes se misturando para formar novas cores, nossos melhores sentimentos formando acordes com as notas que vem de pessoas queridas...

Mas o agir é sempre um só.


Só nos é permitido viver cada minuto apenas uma vez, a vida não aceita devolução do tempo!


Para não nos perdermos na máquina que faz os dias passarem, com engrenagens de obrigações, labuta e distrações necessárias para arejar a cabeça, é preciso de tempos em tempos reler os lembretes de que o tempo é uma via de mão única.


Que possamos viver escolhendo como gastar nossos pedacinhos de vida, e não conduzidos pelas circunstâncias como folhas secas levadas pela água do rio.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Uma conversa para dentro


Uma pessoa que tem dentro de si um buraco, e procura preencher este buraco, este vazio, esta ausência de sentido em rodas de amigos, em envolvimentos amorosos, em paixões/distrações, fica pulando de um círculo para outro, sem compromisso de formar vínculos e sempre estará vazio. Só a própria pessoa conversando consigo mesma pode saber o que está faltando em si mesma ou em sua vida.

Amar é dedicar tempo ao que se ama. Isto vale para o amor próprio também.É preciso sentar consigo mesmo e fazer uma conversa muito íntima, não se prender a fatos recentes e nas suas reminescências, não se prender somente a vontades/necessidades, mas focar no que nos define, naquilo que devemos buscar para crescer, evoluir e dar sentido a uma existência. Amar-semé dedicar tempo a essa prospecção de si mesmo.

Não somos o que fazemos apenas, mas nossos atos definem nossa vida pelas consequências de tudo que fazemos ou deixamos de fazer, conscientemente ou por distração, por fraqueza, por hábito. As pessoas em nossa volta nos vêem e fazem suas análises, tiram suas conclusões com base no que fazemos e falamos. O que pensamos não emerge para as pessoas que nos cercam se não abrimos a boca e falamos sobre elas. Da mesma forma, há coisas dentro da gente que a gente nem pensa nelas, talvez por nos deixarmos levar pelo jogo de ação-reação do dia-a-dia, quando nos mantemos atentos para os papéis que as circunstâncias nos pedem, mas o que somos está algumas camadas de pensamento abaixo desse jogo. É preciso silenciar, de tempos em tempos  e entrar em contato com nossa essência, com aquilo que somente pode ser vocalizado internamente, com o nosso próprio vocabulário emocional, com nossas ferramentas de reflexão, com nossa tão particular sensibilidade.

Entretanto, não nos bastamos.

Dar sentido a uma existência também passa por doação, não há sentido em uma existência centrada o tempo todo no Eu, é preciso reconhecer-se parte de algo maior, algo que afeta outras vidas, e aceitar ou rejeitar influências de outras vidas na nossa, não exclui a necessidade de refletir sobre essas influências, de usá-las como alimento para a mente, para a percepção sensível, mesmo que seja indiretamente, ouvindo os acordes dos ecos que essas coisas externas tem dentro de nós.

É preciso buscar a companhia das pessoas que catalisam ou que fazem florescer o que há de melhor na gente, sim, mas sem deixar de dedicar tempo a principal companhia: nós mesmos, desnudados de conceitos plantados, despidos de pensamentos estruturados, simplesmente o que nos define nos porões mais escondidos da nossa alma, a raiz de nossas virtudes e falhas, de tudo o que frutifica e floresce na gente, ou que deixa de germinar por nossa própria neglicência.

Imagem: Possibility of Rain, by Popoks-d4muoi7 - DeviantArt

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Não Sei Quantas Almas Tenho

Não Sei Quantas Almas Tenho (Fernando Pessoa)

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não atem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.





Que todas as almas que temos dancem
Levadas pela sinfonia da vida!

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Antigo e Novo



O antigo e o novo são dois brinquedos que temos pra brincar, brincar de viver, botamos eles para brincar de casinha e na conversa entre esses dois amigos imaginários escrevemos - brincando - uma historia fantástica que fala muito sobre o que somos e o que queremos.

Para viver uma vida nova, não podemos negar o que fomos, mas aprender todas as lições que a vida nos ensinou de novo, ao relembrar tudo de bom e de ruim que nos aconteceu, e assim...mais vivido, mais experiente, nascer de novo a cada dia.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Conviver com os Erros que Cometemos


As vezes, existe um mar de distância entre o ideal e o real, mas diante de todas as dificuldades, é preciso manter a atitude correta.

Usar cada erro para corrigir suas próprias falhas, e dar um passo adiante, sem ceder aos extremos de se ver como coitadinho ou desprovido de sorte, e nem de ceder ao orgulho, à arrogância quanto às próprias habilidades.

Ser superior é se reconhecer falho e não se deixar consumir pelos fracassos.

"O caminho do homem superior pode ser comparado ao que acontece quando se viaja, para chegar a um lugar distante, é preciso primeiro percorrer os espaços vizinhos, e para atingir os picos das montanhas, precisamos começar na base das montanhas."

Confúcio - o Caminho do Meio

Assim é toda jornada para dentro de si mesmo, para corrigir suas falhas e desenvolver suas virtudes.


Nunca se faça de vítima dos acontecimentos. É preciso der tolerante consigo mesmo e com os outros, para não viver aborrecido por coisas insignificantes. É terrível quando a pessoa vive remoendo críticas. Um caminho seguro para aprender com as derrotas é assumir seus atos, corrigir os erros e não cair no abismo da justificativa barata.


"A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade."

Mário Quintana

‎"Não te deixes dominar pela tristeza e nem te aflijas com os teus pensamentos. Ilude as tuas inquietações, consola o teu coração, afasta para longe a tristeza: porque a tristeza matou a muitos e nela não há utilidade nenhuma."

Eclesiástico 30,21.23

"A tristeza impede o indivíduo de reflectir com toda a liberdade e adquirir a paz interior."
Texto Judaico

"Cuidado com a tristeza. Ela é um vício."

Gustave Flaubert

"Não é a nossa condição, mas a têmpera da nossa alma que nos torna felizes"

Voltaire


‎"Aprendi que a humildade mora em corações alados que não carregam o peso do orgulho. Que respeito é par constante da admiração. E que só a generosidade é capaz de descongelar sentimentos frios."

(Renata Fagundes)

domingo, 1 de janeiro de 2012

Despertar


Dormi e sonhei que escrevia sobre os ventos e brisas que sopram dentro de mim e de seus significados, de eles me lembrarem que não sou sempre o mesmo e de não sou apenas o que é "meu eu".
Acordei e vi que estava em um mundo de cores mais fortes, e apesar de minha momentânea desorientação, era evidente a intensidade do agora. A vida, o mundo, não eram mais como eram antes, onde reflexões sem ações ficavam impunes.
Alguém comentou minhas constatações e me fez ver que o mundo não havia mudado um milímetro sequer, eu que estava despertando de um longo e letárgico sonho onde me imaginava desperto, atento, consciente, e iludido de que observava tudo, sem deixar passar quase nada. Iludido de que percebia mais coisas que as pessoas ao meu redor.
Talvez fosse verdade até. Mas eu simplesmente não notava, como percebo agora, os tantos significados invisíveis, inaudíveis estão flutuando por aí, levados por brisas e ventos.

Há significados libertários e apaziguadores, há viagens que acontecem em segundos e trazem em sua bagagem sementes que rendem fartas colheitas, talvez resumam anos de reflexões solitárias, para uma alma simplesmente passar por ali e colher seus frutos, ou para que a laboriosa alma se refloreste mais uma vez e anos depois, deguste o sabor único dos frutos que ela mesma fez germinar, regou e aguardou pacientemente até que estivessem maturados.

Há algo que é verdade e ao mesmo tempo não é, porque é algo que se captura e que se interpreta,
e quanto mais se interpreta menos se captura, pois o que há de verdade ali vive-se.
.. e a tentativa de entender essa verdade tão universal nos leva a descobrir conceitos seminais sim, mas fragmentários, fragmentos de uma verdade maior, que transcende entendimentos.

Assim são esses ventos e brisas. o que sinto ventar em mim é apenas uma parte do que venta neste mundo e em outros.

Talvez depois de outros sonhos, eu escreva aquele que escrevi nesse sonho. Aquele que mandei para alguém por e-mail e a resposta me fez sorrir e me tornou mais aventureiro.

As Vitaminas de Schopenhauer



Vitamina A
O importante é ser quem você é, e isso quem sabe melhor é você, não os outros.
Jogue o seu jogo. Você faz isso quando se distancia das expectativas dos outros. Você só consegue se encontrar consigo mesmo quando renuncia às opiniões alheias e, apurando sua sensibilidade, delimita um outro mundo. Recolha-se com freqüência para dentro de si e reflita sobre aquilo que quer fazer. Perceba seus  desejos. Que desejos são realmente seus? Que desejos são impostos pelos outros?

Vitamina B
Desfrute o presente!
Não se apegue por muito tempo aos erros que você por ventura tenha cometido. Planeje apenas o essencial para o futuro. O presente é o bem mais valioso que possuímos. A vida é curta.

Vitamina C
Cuide de sua saúde!
Nada vale tanto a ponto de você arruinar sua saúde. Muitas vezes os problemas desaparecem com uma boa corrida.

Vitamina D
Aguce sua compreensão da causalidade. Não compre gato por lebre.
Observe as pessoas com cuidado. Não se limite a ouvir o que dizem, mas veja a maneira como dizem. Com que tom alguém fala alguma coisa? Com que expressão? Pelo tom de voz e outros sinais você perceberá se a pessoa está tentando enrolá-lo. Seja cético. Esqueça todo aquele que tentar vender-lhe a verdade.

Vitamina E
Contemple, pense, sinta, poetize, pinte, crie música, leia, medite e invente.
Nem sempre é preciso entender tudo de uma só vez. Pince aquilo que te tocar o espírito. Numa segunda leitura, você terá outra compreensão. Mergulhe no passado para poder observar melhor o presente. Mas não leia demais, é bobagem pensar que a leitura aprimora as pessoas. Schopenhauer zombava de quem se distraía lendo ao invés de pensar por si mesmo. Encontre um saudável meio-termo entre a leitura e a experiência. Medite centrado em você e invente-se novamente.