quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Uma conversa para dentro


Uma pessoa que tem dentro de si um buraco, e procura preencher este buraco, este vazio, esta ausência de sentido em rodas de amigos, em envolvimentos amorosos, em paixões/distrações, fica pulando de um círculo para outro, sem compromisso de formar vínculos e sempre estará vazio. Só a própria pessoa conversando consigo mesma pode saber o que está faltando em si mesma ou em sua vida.

Amar é dedicar tempo ao que se ama. Isto vale para o amor próprio também.É preciso sentar consigo mesmo e fazer uma conversa muito íntima, não se prender a fatos recentes e nas suas reminescências, não se prender somente a vontades/necessidades, mas focar no que nos define, naquilo que devemos buscar para crescer, evoluir e dar sentido a uma existência. Amar-semé dedicar tempo a essa prospecção de si mesmo.

Não somos o que fazemos apenas, mas nossos atos definem nossa vida pelas consequências de tudo que fazemos ou deixamos de fazer, conscientemente ou por distração, por fraqueza, por hábito. As pessoas em nossa volta nos vêem e fazem suas análises, tiram suas conclusões com base no que fazemos e falamos. O que pensamos não emerge para as pessoas que nos cercam se não abrimos a boca e falamos sobre elas. Da mesma forma, há coisas dentro da gente que a gente nem pensa nelas, talvez por nos deixarmos levar pelo jogo de ação-reação do dia-a-dia, quando nos mantemos atentos para os papéis que as circunstâncias nos pedem, mas o que somos está algumas camadas de pensamento abaixo desse jogo. É preciso silenciar, de tempos em tempos  e entrar em contato com nossa essência, com aquilo que somente pode ser vocalizado internamente, com o nosso próprio vocabulário emocional, com nossas ferramentas de reflexão, com nossa tão particular sensibilidade.

Entretanto, não nos bastamos.

Dar sentido a uma existência também passa por doação, não há sentido em uma existência centrada o tempo todo no Eu, é preciso reconhecer-se parte de algo maior, algo que afeta outras vidas, e aceitar ou rejeitar influências de outras vidas na nossa, não exclui a necessidade de refletir sobre essas influências, de usá-las como alimento para a mente, para a percepção sensível, mesmo que seja indiretamente, ouvindo os acordes dos ecos que essas coisas externas tem dentro de nós.

É preciso buscar a companhia das pessoas que catalisam ou que fazem florescer o que há de melhor na gente, sim, mas sem deixar de dedicar tempo a principal companhia: nós mesmos, desnudados de conceitos plantados, despidos de pensamentos estruturados, simplesmente o que nos define nos porões mais escondidos da nossa alma, a raiz de nossas virtudes e falhas, de tudo o que frutifica e floresce na gente, ou que deixa de germinar por nossa própria neglicência.

Imagem: Possibility of Rain, by Popoks-d4muoi7 - DeviantArt

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