quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Consciência e uma Chícara de Chá


Sobre a consciência


Imagine uma cena: você está com uma chícara de chá entre as mãos, e aquietou-se para tomar o chá. Por alguns segundos, você não pensa em nada, você está totalmente imerso naquela experiência de tomar o chá. Você sente o peso e o tamanho da chícara, sente o cheiro do chá, sente seu calor. Começa a tomar o chá lentamente, atento a seu sabor, seu calor. Apenas um ou dois goles, e sua mente começa a vaguear novamente. Você pensa uma coisa, depois outra, e quando se dá conta, a chícara está vazia e você tem pouca lembrança de como foi tomar aquele chá. A experiência acabou antes de acabar.


Este mesmo tipo  de perda de consciência ocorre quando você precisa ir de um lugar para outro e vai andando.Você mais ou menos escolhe o caminho por onde pisará, mas a mente está vagueando e o corpo está no piloto automático. Um monte de detalhes do caminho e dos objetos e pessoas no meio do caminho passaram completamente despercerbidos a você, textura do piso, grama, asfalto, cimento, onde estava limpo ou sujo, se havia alguém que precisava de ajuda, uma árvore cujas flores desabrocharam naquele mesmo dia, pássaros cantando,uma enorme quantidade de informação contida no caminho por onde você andou e que você não percebeu.


Grande parte de nossas vidas estamos assim - andando no piloto automático - distraídos com essa mente tagarela que não nos deixa perceber verdades ocultas no desenrolar de acontecimentos, na sucessão de agoras que juntos perfazem uma vida. Respondemos aos estímulos, fazemos o que é preciso em cada momento, mas os níveis de consciência variam, pois a mente tagarela está sempre querendo remoer alguma coisa. Cada pessoa percebe apenas uma parte dessas verdades ocultas nas coisas, nos fatos, nas palavras com as quais entramos em contato, e mesmo no discurso não-falado. O que uma pessoa percebe muitas vezes está contaminado com o que ela aprendeu em experiências passadas similares, preconceitos, impressões, e pode ser distorcido por um hábito de forjar uma conclusão rápido demais, que impede à pessoa ver as coisas como elas são, e não como ela acha que são, ou como ela acha que deveriam ser, ou como gostaria que fosse.


Em alguns momentos, podemos nos sentir incompletos, sentindo que falta algo nas nossas experiências de vida. Em parte, deve-se ao fato do nível de consciência com que vivemos aquela experiência.Em parte, em função das expectativas que nossa mente criou, quando categorizou aquela experiência antes de ela acontecer.


Estar consciente em todos os momentos é um exercício que nos coloca em sintonia com nossa própria essência, com a atenção voltada para dentro, e ao mesmo tempo nos permite ver a vida como ela é, com maior riqueza de detalhes. o Exercício de combinar esse olhar para o mundo e essa conexão com a própria essência é  um dos aspectos mais encantadores de se estar vivo.

Imagem: A Cup of Tea - by JunKarlo - deviantArt

Um comentário:

  1. A maior inquietude da alma do ser humano é proveniente dos seus pensamentos (devaneios). E assim, como exemplo, alguns os poetas tentam, de alguma maneira, explicar o que são os pensamentos e a maneira mais plausível de viver com eles, sem dor:
    "Nunca chegamos aos pensamentos. São eles que vêm". Martin Heidegger.
    "A melhor maneira de melhorar o padrão de vida está em melhorar o padrão de pensamento." (U. S. Andersen)
    Então, pra mim, dentro dos meus devaneios, esta mais que certa a afirmativa do poeta Caio Fernando de Abreu:
    "Para provar novos chás, é preciso esvaziar a xícara."

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