quarta-feira, 17 de abril de 2013


NÃO SE LIBERTA DOS GRILHÕES DO TEMPO

A administração do tempo é com certeza uma necessidade de todos, já que o tempo é entre aqueles  recursos limitados que dispomos para satisfazer necessidades ilimitadas um dos mais rígidos, mais inflexíveis capatazes. Ele nos vê e como escolhemos usar o tempo de nossos dias e mantém-se impassível como a estátua cega da Justiça. Aqueles que se omitem na distribuição das fatias desse bolo altamente perecível que é o tempo, podem ver seu barco arranhado ao bater em recifes de desgostos, ao terem o barquinho de suas vidas levado pelas correntes marítimas das consequências da própria falta de consciência sobre o uso do próprio tempo.



Mas, sabe, mesmo sendo o tempo esse capataz intransigente, é possível superar uma relação de senhor e vassalo e conquistar com o tempo uma relação de amizade, daquele tipo em que os amigos apenas precisam se olhar nos olhos para se entenderem. Entender que por mais que se queira ou que se tenha arte o tempo não volta não nos obriga a uma relação de submissão. Apenas respeito àquilo que é inevitável. E consciência do valor do tempo.

Na verdade, o tempo em si é neutro, são outros os senhores que tentam nos escravizar dizendo agir em nome do tempo. Estes senhores que nos escravizam estão em nossas mentes, vivem nas sombras. Alguns tem até um sorriso sedutor, mas trazem perdas, atrasam nosso caminhar, ensurdecem nossos ouvidos para o som da brisa que sopra na direção do caminho que queremos trilhar. Estes momentos de silêncio nos permitem escapar dos pensamentos condicionados. Escapar da voz errática dos outros. Evitar ser um autômato que apenas reage, e tem sua vida governada pelo encadeamento lógico dos eventos que acontecem na vida de uma pessoa e as leva a reações instintivas.

Aristóteles chocou as pessoas ao afirmar que algumas pessoas tem alma de escravo. Há pessoas que por natureza não pertencem a si mesmas, relegam as decisões sobre sua vida a outra pessoa, para que possam viver despreocupadas em relação à própria existência. A via de menor esforço de apenas se deixar levar, e renunciar a responsabilidade de controlar de acordo com seu melhor julgamento sua própria vida, é ter alma de escravo. 

De uma forma geral, é preciso que nos mantenhamos atentos ao que fecha os olhos da percepção, e saibamos identificar as ilusões criadas em nossa própria mente, que várias vezes nos faz ver o que a mente projeta - e não aquilo que simplesmente é.

Por mais contraditório que possa parecer, para andar no caminho correto, para que se possa andar para frente, é preciso parar de tempos em tempos e permitir-se ouvir o silêncio. Quem corre muito, ansioso para usar o tempo da forma mais humanamente eficiente pode não se dar conta de que está indo em um caminho que não é frutífero. A direção é mais importante que a velocidade. Até porque aquilo que você absorve de informação e aprendizado do caminho trilhado é muito afetado pela velocidade que você imprimiu a cada trecho. Saber ajustar o ritmo àquele que está em sintonia com o seu interior é importante, mas estar com os olhos da percepção abertos, buscando estar consciente do que acontece, de forma imparcial, desapegada e sem formar apressadamente conclusões, permite que a caminhada se enriqueça, de conteúdo, de encantamento, de vida!

Para essa pessoa que se mantém consciente do mundo exterior, que administra aquilo que tem de acordo com seu melhor julgamento, fatiar o tempo é algo que faz parte do conjunto de tarefas "estou trabalhando para mim mesmo". Para essa pessoa, o tempo pode ser um amigo, um amigo sisudo e por vezes desastrado, mas alguém que pode nos ajudar, se soubermos trabalhar os pontos de atrito.

Imagem A Break In Reality - by Xetobyte (devianArt)

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