segunda-feira, 18 de março de 2013

O Tempo que a vida acontece


Os relógios marcam sempre o mesmo tempo, mas o tempo que realmente importa é o tempo marcado pelas batidas do coração. 
Há famas que acreditam piamente na concretude do tempo milimetricamente medida em relógios atômicos, outros cronópios tem a lucidez de entender que esse tempo rigidamente marcado é um abstração, e que o tempo verdadeiro é aquele no qual os eventos que calam sentidos profundos na alma acontecem, tempo que dança variados ritmos.

Os momentos que marcam uma vida, aqueles que ressoam longa e profundamente nas almas, todos eles acontecem dentro desse tempo fantástico, onírico, lado B do tempo abstrato que você vê no seu relógio, no seu calendário.


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Os Cronópios são pessoas alegres, sonhadoras, criativas, sensíveis, capazes de se encantar com coisas pequenas e triviais, naturalmente capazes de  viver poeticamente o mundo. 



"A palavra Cronópio  se compõe da justaposição de dois vocábulos gregos: chrónos (tempo) e ópion** (a substância da famosa papoula, capaz de deixar a pessoa em estado de euforia seguido de um sono onírico). Assim, penso que não ficaria mal se definíssemos os cronópios como seres entorpecidos pelo sentimento do tempo."* 

* Essa definição é parte de um maravilhoso texto que você lê aqui 




Já os famas  são uma alegoria das pessoas que gostam de um mundo muito ordenado, sempre olham no relógio pra tudo, são organizadas, rígidas, com uma tendência sempre presente a enquadrar o mundo em padrões, que empreendem esforço em preparar o terreno por onde planejam andar. Ainda que bem intencionados, tem o costume de julgar as pessoas com a mesma forma rígida com que planejam seus passos.

No livro ‘Historias de Cronopios y de Famas’ (1962), o escritor argentino Julio Cortazar cria uma alegoria de dois lados da mesma moeda que habitam em cada um de nós, que somos a cada dia uma mistura de fama e cronópio, e nos chama a atenção para um mundo fantástico  que se esconde sob o tecido dos dias, imerso nos esquemas estruturados, lógicos, racionais que criamos para nos relacionar comodamente com as coisas rotineiras do nosso dia-a-dia. 


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